Vi notícias, neste jornal, do Jamboree que está ocorrendo em Natal. Quando ativo no radioamadorismo, participei de inúmeros Jamborees internacionais, quando escoteiros de Natal se comunicavam, através de minha estação, com escoteiros das mais longínquas terras. Tinha prazer em proporcionar esse contatos, pois sempre admirei a dedicação e espírito dessa rapaziada.
Natal tem tradição escoteira. Tivemos vários grupos importantes. Lembro-me de um paladino nesse trabalho, o Professor Luiz Soares. O considero como o nosso Lord Baden-Powell. Até fisicamente o lembrava. Usava inclusive um chapéu de abas largas, que o fazia parecido com ele.
Uma outra pessoa muito dedicada ao escotismos foi Gurgel, funcionário do Banco do Brasil, e líder dos Escoteiros do Mar. O conheci pessoalmente e acompanhei com admiração sua dedicação à causa.
O seus escoteiros liderados por Professor Luiz Soares eram sediados no Grupo Escolar Frei Miguelinho, na Amaro Barreto. Um grupo grande, com um razoável contingente. Tinha uma banda de musica muito boa, com bom número de componentes, que desfilava nas diversas comemorações nacionais.
Os vi desfilando na Rio Branco, na Deodoro, em dias de 7 de setembro, ou 5 de setembro, no “Dia da Raça”, invenção do Estado Novo e depois cancelado. O faziam com garbo, disciplinados, com o Professor abrindo o desfile. Quem é do meu tempo deve se lembrar disso.
Tocando na banda, vários conhecidos. Não esqueço nunca o meu amigo Sylvio Tavares, grandalhão, pesado, das figuras mais interessantes de Natal daquele tempo. Espirituoso, brincalhão, gozador. Tocava Piccolo, uma flautinha pequeníssima, que quase não se via. E, nas enormes mãos de Sylvio, quase desaparecia.
Orlando Gadelha, outra grande figura de nossa cidade, também espirituoso e brincalhão, assistia a um desses desfiles. Lá vem a banda dos escoteiros, com Sylvio à frente, tocando com entusiasmo sua minúscula flauta. Orlando, vendo o espetáculo, virou-se para os circunstantes e comentou: lá vem Sylvio, tocando na sua caneta-tinteiro. E a bichinha parece mesmo com uma caneta.
Dalton Mello de Andrade – Ex- Secretário Estadual de Educação e ex- Pro-Reitor da UFRN