ESCREVO PARA NÃO ESQUECER QUEM SOU… –
Algumas vezes sinto que estou me apagando, a memória falha, as lembranças se dissipam, o tempo pretérito parece nem ter existido. Às vezes, olho para trás e me pergunto se as lembranças que guardo são realmente minhas. Parece que, aos poucos, as experiências que moldaram quem eu sou estão se desvanecendo, como se estivessem sendo apagadas por alguma força invisível.
É como se eu estivesse perdendo pedaços de mim mesma no labirinto do tempo, e a única maneira que encontro para manter viva a minha essência é escrevendo. Escrevo para resgatar as memórias que insistem em escapar, para eternizar os momentos que moldaram minha identidade.
Cada palavra escrita é um ato de resistência contra o esquecimento. É a minha maneira de gritar para o universo: Eu passei por aqui, existi! Sim, eu vivi, enquanto estive aqui, cada pedacinho de passado, presente e futuro, sendo todas as Flávias que habitam em mim, tudo isso, por causa de cada instante que já passou.
Escrever é como costurar os pedaços soltos da minha história, é afirmar a minha presença neste mundo efêmero. É uma forma de me reconectar comigo e com tudo o que me fez chegar até aqui. Por isso, todas as vezes em que pego a caneta e o papel, sei que estou lutando contra a amnésia do tempo, contra os cancelamentos estúpidos da humanidade, buscando preservar a minha identidade em meio ao constante fluxo da vida.
E assim sigo escrevendo, não apenas para não esquecer quem sou, mas também para me lembrar do poder transformador e terapêutico das palavras e, sem dúvidas, lembrar da importância de remendar os fragmentos mais relevantes do passado, criando elo com os tempos vividos, entrelaçando momentos, emoções e reflexões, mantendo viva a chama da minha existência. Escrever talvez seja uma simples forma de registrar meu legado e não esquecer quem sou.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora dos livros As Esquinas da minha Existência e As Flávias que Habitam em Mim, crô[email protected]