O projeto Mulherio das Letras surgiu ainda durante a pandemia, em 2020. Segundo Eva, ela estava se sentindo sem espaço, sem visibilidade para publicar suas obras. E, ao conversar com outra escritora, a ideia surgiu.
“Conversando com uma grande escritora chamada Maria Valéria Resende, que mora em João Pessoa, ela me deu muitos conselhos e disse: ‘Eva, você tem que procurar organizar um grupo de escritoras que tenham as mesmas questões que você. Essa mesma luta contra o apagamento’. E aí ela me deu a ideia de criar o Mulherio das Letras Indígenas. Então, eu fui pra Marcha das Mulheres Indígenas, conheci muitas manas escritoras em Brasília e comecei a pensar em organizar um projeto literário que atendesse essas mulheres, que têm uma escrita diferenciada”, relatou a Eva Potiguara.
A escritora conta que lançou o edital simplificado onde várias mulheres indígenas, tanto de aldeias quanto do contexto urbano, de qualquer idade, poderiam participar gratuitamente.
“As pessoas riam, por que não acreditavam que isso seria possível. Como é que a gente ia criar um livro com custo zero? É claro que tudo tem custos. Mas a gente confiou que isso ia dar certo. E passamos 1 ano e meio produzindo essa obra. Lançamos o primeiro Mulherio em 20 de fevereiro de 2022, abrimos o edital em março do mesmo ano e fomos juntando mulheres de todo o território brasileiro. Apareceram mulheres de várias etnias, de várias regiões. E aí apresentei o projeto, chamado Album Biográfico do Mulherio das Letras Indígenas”, relembrou.
Eva reforçou a importância do projeto para as mulheres que participaram como co-autoras.
“A maioria das mulheres indígenas são agricultoras, artesãs, muitas vivem da própria agricultura familiar, muitas saíram da aldeia e vieram pra cidade para ser empregadas domésticas e mandar recursos pra família, e muitas passam dificuldades. Então, quando que essas mulheres poderiam, um dia, lançar um livro? A maioria nem tinha celular com memória, ou computador, muito menos uma impressora. Foi um processo difícil, mas conseguimos coletar as suas biografias, seus poemas, suas crônicas e o livro deu certo”, pontuou.
O livro foi lançado no mês de setembro, primeiro na versão digital, como e-book. Depois, em novembro, a versão física foi lançada e distribuída para todo o país.
Sobre o prêmio Jabuti, a escritora contou ter ficado surpresa. “Este ano de 2023 eu fui diagnosticada com um câncer. Então, no mês de maio eu estava cirurgiada quando a Vanessa Guarani, que foi minha editora, disse: ‘Eva, vamos colocar o nosso projeto para o prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura?’. Aí, eu estava ainda muito fraca e disse: ‘Minha irmã, fique a vontade para colocar’. Então ela pegou a assinatura de todas as manas que são co-autoras e colocou o projeto. Eu nunca tinha participado de nenhum concurso. Então, tive a surpresa de ficarmos entre os 10 finalistas”, contou Eva.
A vencedora da categoria Fomento à Leitura citou que o a premiação foi uma “reparação histórica”.
“Chegar até a final e receber esse prêmio, eu poderia dizer muitas coisas, inclusive falar de reparação histórica. Por que a literatura indígena não passa de 1% no território brasileiro. Nós, escritores e escritoras indígenas, não somos lidos. Mas a questão também é o espaço de oportunidade. Furar essa bolha é um processo muito complexo. Mas a gente acredita que tivemos muita força espiritual para poder chegar até aqui. Chegar a esse ponto é ocupar um espaço que também é nosso”, pontuou a escritora.
Sobre os impactos da premiação, Eva contou que espera que as pessoas se conscientizem mais sobre suas raízes.
“Eu espero que as pessoas, pelo menos por curiosidade, comecem a ler mulheres indígenas, que comecem também a refletir sobre essa terra, sobre sua identidade, e comecem a rever algumas verdades absolutas que foram impostas por uma educação colonializada, uma educação forjada no colonialismo e forjada também no pensamento eurocêntrico, de que nós indígenas somos selvagens sem alma, somos bichos inferiores, não temos artes, não temos lei”, relatou.
Além de escritora e poeta, Eva Potiguara é doutora em Educação pela UFRN, membro imortal da Associação de Leitura do Brasil Seccional Goytacazes (RJ), membro da União Brasileira de Escritores do RN, da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN e da Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares. Também é produtora cultural e editora da EP Produções.
Além do projeto vencedor do prêmio Jabuti, Eva Potiguara tem outras obras publicadas, como ‘Do casulo à borboleta‘ (2017), uma obra do gênero poema voltada para a autocriatividade do ser; ‘Gatos diversos‘ (2019), um projeto ambiental voltado para o público infantojuvenil com foco na educação ambiental, com uma abordagem mais lúdica; e o ‘Abya Ayala Membyra Nhe’engara‘ (2022), um livro de poemas da literatura indígena, que possui uma configuração poética plural.
Sobre sua escrita, ela diz que não segue padrões. “É uma escrita que não segue os padrões de uma academia clássica de literatura e é focada na resistência e na ancestralidade dos nossos povos, nas histórias de muita luta, de muito sofrimento que tivemos nessa terra chamada Brasil”, definiu.
Fonte: G1RN
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