Mudança, a palavra de ordem do slogan do PMDB e seus aliados, se confrontado com os demais, é a formulação de maior elaboração na atual gramática política estadual e, ao mesmo tempo, simples e ousada. Assumiu o que deveria ter sido a letra e a espada dos outros partidos diante de um governo que fracassou ao longo de quatro anos. E fracassou tendo ao lado as mesmas siglas que hoje querem mudar o governo em nome da salvação e de um novo futuro para Rio Grande do Norte.

O que parecia impossível o candidato Henrique Alves parece consolidar a cada dia quando faz da união a única arma capaz de, pela força de todos, vencer a gravidade a que foi levado o Estado ao longo do Governo Rosalba. A crise metaforiza a união tornando-a um desafio, tarefa que deveria ter sido assumida pela oposição, mas ficou flutuando entre o altruísmo de um e o trabalhismo petista do outro, sem segurar nas mãos o símbolo forte de uma oposição que deveria ser, legitimamente, sua.

Não faz muito tempo, ainda em maio, esta coluna chamou a atenção para o grande acerto que foi assumir a bandeira da mudança. Uma decisão que começou nas inserções do PMDB, bem antes da convenção e da definição das chapas e coligações. Ali, o PMDB já assumia a palavra de força que logo depois das convenções, com o início da propaganda gráfica, iria ser estampada nos cartazes e todas as peças, fixando a mesma leitura, mas agora diluída na forma de slogan: ‘Força para mudar’.

No marketing político o que parece simples é o mais difícil de ser formulado. O slogan – não é segredo para ninguém – há de ser a expressão do verdadeiro para nunca parecer propaganda gratuita. Mudar é um movimento de força e será tanto mais forte quanto maior for sua capacidade de união. ‘Força para Mudar’ é uma verdade ancestral do velho patrimônio da sabença popular, uma releitura da oralidade quando, transmitida anônima e coletivamente, ensinou ao mundo: a união faz a força.

Ora, se estamos diante de uma crise que jogou o Rio Grande do Norte no abismo, mesmo que para alguns tenha sido fabricada pelo malassombro de uma trama dos próprios aliados, o substrato que sobrou foi um monstro que precisa ser enfrentado pela união dos fortes. Uma união que só foi possível na hora em que os contrários se deram as mãos num gesto de entrega e abnegação, tal como uma antiga lição da dominação quando falava do poder da verossimilhança sobre a própria verdade.

Saibam quantos duvidem, e ainda que sejam poucos: na persuasão é quase invisível o limite que separa o verdadeiro do simulacro. No caso do slogan da coligação liderada pelo PMDB é tanto mais difícil, se feita a decomposição: os fortes realmente se uniram e juntos representam a força para vencer o monstro que o atrito do confronto fez nascer no imaginário popular. Caberia à oposição, com engenho e arte, o desmonte. Mas, sem conseguir fazê-lo, fez seu marketing perder um aliado.

Vicente Serejo – Jornalista e Escritor

Ponto de Vista

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