Em janeiro, a VaideBet assinou um acordo com o Corinthians, seriam R$ 360 milhões divididos em três anos. Até o fim de maio, o clube recebeu R$ 66 milhões em 50 pagamentos diferentes. Entretanto, a VaideBet rompeu o contrato depois que descobriu onde foi parar parte do dinheiro pago pelo clube como comissão à agência que ajudou a fechar o negócio.
“Neste contrato de fato consta a Rede Social Media Design como intermediadora. Nós consideramos o clube como uma potencial vítima”, explicou o delegado da Polícia Civil – SP, Thiago Correia.
Empresa de fachada
Em março, o Corinthians fez dois depósitos de R$ 700 mil para a Rede Social Media Design. O dono dela é Alex Fernando André, conhecido com Alex Cassundé. Ele trabalhou na campanha de Augusto Melo à presidência do clube. Depois de receber esses pagamentos, a Rede Social Media Design realizou duas transferências para a conta de uma outra empresa, a Neoway Soluções Integradas.
Na documentação consta que o endereço da Neoway fica na Avenida Paulista, 171, mas ninguém nunca ouviu falar da empresa no local. De acordo com o delegado, a Neoway é uma empresa de fachada, uma sociedade fictícia, constituída em nome de uma laranja.
Claudio Salgado, advogado de Alex Cassundé, a princípio, não quis esclarecer a relação do cliente com a empresa. “Não podemos ainda abrir essa situação”, disse. Depois, ele admitiu que existiu um contato entre seu Cassundé e a Neoway. “O que eu vou esclarecer depois, via inquérito ou via imprensa para vocês, é como essa operação se deu e por que ela se deu”, falou.
O Fantástico teve acesso também a um documento assinado pelo advogado Claudio Salgado, em que ele diz que os pagamentos feitos pela Rede Social Media Design para a Neoway seriam por serviços de telemedicina. Cassundé tem negócios no ramo da saúde.
Edna Oliveira dos Santos, que aparece como dona da Neoway, prestou depoimento à polícia. “É uma pessoa de poucos recursos, vive de favor, e a renda é o Bolsa Família”, explicou o delegado. No depoimento, Edna falou sobre uma estranha visita que recebeu em 30 de abril, 20 dias antes de o caso ser revelado. Uma mulher que se identificou como Ana, salientou que havia uma sociedade empresarial em nome da Edna e que haviam depositado R$ 1 milhão na conta desta sociedade.
“Alguns amigos da Edna, anotaram a placa do carro. Nós então descobrimos através dos dados desse carro, que essa pessoa se trata de uma mulher chamada Adriana”, revelou o delegado.
Detetive particular
Em depoimento, Adriana Ramuni, a dona do carro. Ela afirmou que há dois meses tinha sido contratada pela empresa de investigação particular Vênus com o intuito de confirmar se uma tal “Edna” conhecia a empresa Neoway, bem como se havia assinado algum documento para a constituição da empresa.
O dono da agência de detetives é Felipe de Lacerda Ferreira. A polícia tem indícios de que ele foi contratado por Armando Mendonça, um dos vice-presidentes do próprio Corinthians.
A investigação mostra que a Neoway faria parte de um grupo de empresas suspeitas de lavagem de dinheiro. No centro desse esquema, estaria a ACJ Plataform Comercio e Serviços. Entre novembro de 2023 e fevereiro deste ano, ela teria recebido mais de R$ 3 milhões de quatro empresas.
No endereço que seria a ACJ, ninguém conhecia a empresa. O Fantástico também não conseguiu entrar em contato com Carolina Aparecida Vieira, a atual sócia controladora da ACJ, e Anderson Cardoso de Jesus, o fundador da ACJ.
De novembro a fevereiro, a ACJ distribuiu quase R$ 1,7 milhão para outras quatro empresas, R$ 600 mil foram para Neoway, outros R$ 518 mil para a THABS Gestão e Serviços, que também não funciona no endereço registrado como sede da empresa.
“A gente chegou à conclusão de que a empresa Neoway e outras empresas possivelmente coligadas a ela e talvez criadas pelo mesmo grupo criminoso, todos estejam envolvidos num grande esquema de lavagem de dinheiro, de lavagem de capitais, de ocultação de bens”, explicou o delegado Thiago.
Uma outra coincidência reforça a ideia de que as empresas fazem parte de um esquema ilícito. Pessoas que, em algum momento apareceram como sócias na documentação, moram ou frequentam o bairro Jardim Caraminguava, em Peruíbe, uma região pobre do litoral sul de São Paulo. No local, vivem Edna Oliveira dos Santos, da Neoway, e Hermes Alves de Oliveira, sócio da THABS. Próximo mora ainda a mãe de Anderson Cardoso de Jesus, o fundador da ACJ.
Edna, mulher que aparece na documentação como dona da empresa que recebeu mais de R$ 1 milhão só da agência que intermediou o contrato do Corinthians, vive de forma bem humilde, com os três filhos, em uma residência de apenas um cômodo.
Depois da conversa com o Fantástico, o advogado que representa Edna pediu que a gravação não fosse exibida, mas o programa entende que o material é de interesse público, e amparado pelos Princípios Editoriais do Grupo Globo, decidiu não atender ao pedido da defesa de Edna.
Procurado o Fantático não conseguiu com Hermes e Anderson. Adriana não respondeu às mensagens, assim como Armando Mendonça.
Em nota a Vaidebet disse que não poderia manter a parceria enquanto pairasse sobre o acordo qualquer suspeita em relação a condutas que fujam à conformidade com a ética e os preceitos legais. Em nota, o Corinthians afirmou que nunca teve qualquer relação com a Neoway, desconhece seus proprietários e que é vítima da exposição indevida de sua marca.
Depois da exibição da reportagem sobre a investigação em torno do contrato de patrocínio do Corinthians, o vice-presidente do clube, Armando Mendonça, entrou em contato com o Fantástico – que tinha pedido esclarecimentos à assessoria deste sábado (22). Sobre os fatos citados em relação a ele e ao clube, Armando disse que aguarda a apuração da autoridade policial competente para saber o caminho do dinheiro que saiu do Corinthians. E completou: é esse o desejo da sociedade e principalmente dos corinthianos.
Fonte: G1