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ESQUECERAM VOCÊ, AVICENA? – José Carlos Gentili

ESQUECERAM VOCÊ, AVICENA? – 

Os avanços fármacos da atualidade ganham uma velocidade ciclópica com o desenvolvimento das tecnologias físico-químicas em decorrência  da inteligência artificial, protagonizada pelo exegeta Stephen William Hawking, da Universidade de Cambridge, considerado um dos mais importantes intelectuais do mundo.

Do nascimento da roda até o desvendar dos genomas, o homem percorreu, milenarmente, um percurso gigantesco da gnose.

Vivenciamos novos patamares não alquímicos, em que os países e seus laboratórios buscam os antídotos curativos para todas as enfermidades que grassam no orbe, desde os primórdios civilizacionais.

As panaceias de Hipócrates, a monumental enciclopédia médica, denominada Exercícios Anatômicos, de Galeno (Pai da Anatomia); os avançados estudos da farmacognosia, enfeixados na obra De materia Medica, de Pedânio Dioscórides; a monumentalidade dos conhecimentos condensados no Al-Qanun (O Cânone da Medicina), desenvolvidos por Avicena; além de outros tantos gênios, que durante séculos e milênios procuraram mitigar as dores humanas ganharam foro de cientificidade.

Indiscutível é a constatação da cura pela via percuciente dos processos experimentais.

Esta cadeia de iluminados foi sedimentando conhecimentos ao confrontar os males no contexto curativo ao sabor dos ensinamentos que a Mãe Natureza sempre ofereceu.

Primitivamente, as pajelanças dos aborígenes estratificaram os resultados do conluio do homem com os meios curativos de plantas das florestas, verdadeira farmacopeia a céu aberto, ditas medicinais.

Afinal, o que é Ciência, se não a experimentação, a pesquisa de fatos, de acontecimentos, de fenômenos, examinados de forma metódica?

Dizem até ser racional! Mas, quais são os limites da irracionalidade, se não abrimos até hoje a caixa preta neuronal? Continuamos a saga pelo conhecimento do DNA e suas espirais helicoidais, levantando o véu da gênese humana.

Somos pajés vestidos de aventais brancos em laboratórios, isto sim.

A cientificidade é algo da infinitude criacional, espectros dos experimentos.

É importante registrar que os derivados, nominados de fármacos sintéticos, resultam do conhecimento básico dos elementos químicos das plantas. Plantas e homens têm uma forte relação. A propósito, o genial antropólogo belga Claude Lévi-Strauss já afirmara que: “o pajé cura porque há consenso”. O pajé cura porque domina o segredo da medicina das plantas e mais, porque em razão de seu carisma singular, gera um consenso grupal de resultado carismático/psicológico/reativo. As benzedeiras e os raizeiros ainda exercem suas tarefas benfazejas com efetividade.

Agrada-me relembrar o ineditismo da cura da condessa espanhola de Cinchón, que foi curada no Peru, no meio da floresta amazônica, pelos indígenas locais que lhe ministraram a tal da quina, curativa da malária, por volta de 1638.

A quina ou china, que depois foi chamada de Cinchona (Cinchona officinalis), já era tomada pelos missionários quando da evangelização nas Américas.

Este produto milagroso, do receituário dos pajés, passou a ser “científico”, uma vez que era denominado de “pó dos jesuítas”, ao chegar à Europa.

Ressalve-se, a bem da verdade, que este pó benfazejo não deve ser confundido com outros pós andinos…

Durante certo tempo voei sobre a imensidão amazônica, onde encontradiça é a maleita, dita sezão – a malária gerada pelo mosquito anofelino, período no qual era ministrada a indefectível quina (hidroxicloroquina), inclusive chancelada pelo Instituto Osvaldo Cruz, sob o comando do extraordinário cientista Carlos Chagas ( 1917/934), que tantos serviços prestou à nação brasileira.

A terra brasilis é um continente ocupado, atualmente, por uma população sem tradição e cultura, sem memória, cujos quantitativos educacionais alcançam o patamar, aproximado, de 50% de analfabetismo funcional, ou seja: não escreve e não lê; se lê, não entende; se lê e entende, pensa que sabe; embasados numa elite que foi buscar bacharelismo, em Montpelier e Coimbra, redutos medievais de ensino e aprendizado, fruto das ilhas monásticas do conhecimento humano, lamentavelmente, ora em extinção.

Estamos defasados, desde o advento da República com a chegada de Deodoros e Florianos e seus sucessores mandamentais, preocupados apenas pelo o que move o mundo – O PODER!

A massa ignara é induzida à bipartição, a fim de que os indutores possam desenvolver a manipulação dos antagônicos, não pelo conhecimento elevado e criador, mas sim pela introdução de ideologias comprovadamente malsãs, que visam a deformar a natureza humana em maniqueísmos sociais.

Vivenciamos a deformação dos conhecimentos e genialidades para limitação de processos classificatórios educacionais, que serpenteiam pelos meandros dos mestrados, doutorados, pósdoutorados, Qualis e uma parafernália organizacional  de “aferição científica”, merecedores de maior atenção.

Avolumam-se “doutores, pós-doutores, mestres e etc.”, que se arvoram senhores da gnose humana, quando em verdade, apenas exercitam o atávico procedimento da vanitas vanitatum et omnia vanitas est (vaidade das vaidades; e tudo é vaidade), perante a plebe desassistida.

As revistas científicas, atualmente em voga, procuram carrear publicações de novas descobertas. Midiáticas, muitas vezes, visando ao recebimento do Prêmio Nobel e de outras tantas premiações mundiais.

Destinam-se, também, a distinguir professores de corpos docentes em suas atividades acadêmicas, permitindo que sejam estimulados com justos acréscimos financeiros na fixação de etapas universitárias.

As teses e os estudos são fundamentais para o ensino, todavia existem teses, lamentavelmente, inacreditáveis e desprovidas de cunho científico e seriedade, a denegrir qualitativamente o contexto.

As estruturas educacionais governamentais devem manter-se equidistantes de parâmetros político-partidários, ao feitio de think thanks, do universo privado.

Ao assistir à palestra do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, ouvi-o afirmar que o Brasil, até agora, somente teve um gênio: Alberto Santos Dumont – o que é muito pouco ou nada, em relação aos duzentos milhões de viventes. Sem dúvida, uma visão caótica a preocupar-nos perante aos demais países do mundo.

A politização nefasta do enfrentamento pandêmico alcança as raias da insanidade comportamental, agigantada por uma mídia beócia, que se alimenta, exclusivamente, da burra da auri sacra fames, e divulga, sob a égide da liberdade de expressão e de fake news, malefícios criminosos de toda ordem.

Surpreendente que há quase dois anos a população somente falece de coronavírus…  Alguma coisa está errada, surpreendentemente, nos índices da mortalidade nacional.

Por que determinadas falanges insistem em vedar o tratamento precoce da Covid 19, quando o The  American Journal (fls. 16 a 22), jornal oficial da Alliance for Academic Internal Medicine, datado de 1.4.2021, afirma, cientificamente, que a prevenção pelo uso combinado de antivirais e vitaminas, citando a utilização de zinco, azitromicina e hidroxicloroquina, é procedimento vital para evitar a ocorrência de casos graves?

Esta campanha nacional, obscurantista, tem som do tilintar do vil metal… A sociedade deve ser relembrada, sempre, da corrupção institucional gigantesca, cometida durante uma vintena de anos, a dilapidar os cofres da União, a sangrar recursos que deveriam ser destinados à Educação e à Saúde.

Afinal, o que é isto, que tem medo da quina? O que é esta “coisa”, que não é bicho e a gente não vê? Que não é dragão, nem fantasma, sequer o Capeta!  Não morde, nem cheira a enxofre, como fosse o Diabo!

Que coisa é esta que tem pavor da borduna e tacape da quina do pajé, do fervor das benzedeiras e da ascese das orações?

Enquanto os laboratórios se digladiam na busca da solução de antídoto laboratorial, ainda com percentuais não comprovados de cura, resguardo-me com a utilização do receituário do pajé, senhor de cutelo e baraço do laboratório amazônico, que me recomendou, o que faço há 40 anos, para a cura da malária, de infestação de piolhos, mantendo minha sanidade aparentemente preservada, vez que esta COISA  detesta a quina e aprecia a volúpia argentária.

 

 

 

 

José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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