ESQUEMAS TÁTICOS: MELHOROU O FUTEBOL? – 

Fui instigado por um estimado amigo, parceiro/peladeiro, bom de bola — o qual participou efetivamente e com muita qualidade e maestria da nossa inesquecível e ainda ativa “pelada” — sobre o emprego dos variados e sofisticados esquemas ou formações táticas aplicadas hoje no mundo do futebol.

De início, quero dar o meu depoimento prático e incisivo: tudo que se tem feito ultimamente na questão de inovação de táticas, de esquemas, de sistemas tem um só objetivo: de os times não sofrerem gols ou, então, de conseguirem vitórias magras, sem entusiasmo, sem vibração; um futebol pobre de gols: feio, amarrado, sem graça, sem entusiasmo e capenga.

O gol é para o futebol como o pincel é para o artista plástico; se iguala à bela nota afinada de um violino; é a volta para casa, é a alma da poesia.

Analisando e revendo o futebol de hoje, é fácil de assimilar que tudo gira em torno de um sistema mais defensivo, com predomínio de jogadas no meio do campo. É o tique-taque, é o passe curto, é o bitoque, é o lenga-lenga do futebol atual. Os locutores, os comentaristas esportivos, acham bom e enaltecem aqueles times que mantêm setenta por cento da posse de bola em um jogo; no entanto, o placar se mantém mudo, marcando zero a zero. Falta gol! Falta tudo!

Nota-se abertamente, em todos os sistemas hoje aplicados, que o setor do meio do campo é o local de maior concentração de jogadores, o mais bem protegido, o mais povoado.

Atuei no futebol da terrinha, na década de 1960, como quarto-zagueiro. Não se falava, nem se discutia sistema tático na época. Mas, lembro bem, que entrávamos em campo com uma formação de um  4-2-4; todos os times jogavam assim. Havia uma exigência pesada e natural em cima do defensor, uma vez que não tínhamos aquele jogador de proteção à frente de zaga – o “cabeça de área”. Isso fazia com que as partidas fossem mais competitivas, mais atrativas, mais vibrantes e, o melhor, com muitos gols no final.

Voltando no tempo, quem não lembra do Santos, de Pelé, do Atlético Mineiro, de Dadá Maravilha, o jogador que mais fez gol em uma só partida no mundo: nove, sendo cinco de cabeça; do Botafogo, de Garrincha; do Cruzeiro, de Tostão; de Rivelino, no Corinthians e por aí caminham as festas dos gols, alegrando e fazendo vibrar suas grandes torcidas.

Já imaginaram Pelé, Coutinho, Garrincha, Dadá Maravilha recebendo instruções táticas para obedecer esses rígidos e intrincados esquemas? Um 3-6-1, um 4-2-3-1, ou 5-5-0? Ficariam atordoados, lerdos e, com certeza, não cumpririam jamais.

Vamos historiar um pouco: o primeiro esquema tático utilizado foi o 1-1-8 e tem registro do ano de 1850; contava com apenas um jogador de defesa, um meio campista e uma linha de oito atacantes para marcar gols. Um sistema arrasador!

A FIFA reconhece muitos sistemas táticos: 4-1-4-1; 4-1-3-2; 4-2-4; 4-3-3; 4-4-2; 3-5-2; 4-2-3-1; 3-4-3; 3-6-1; 4-5-1; 5-4-1; 5-3-2, 2-3-5 (pirâmide); o 3-2-2-3 ou 3-4-3 (WM). Tá achando pouco? Quer mais? Quem sabe se não é esse montão de números que vêm  confundido e esquentando a “cuca” de muita gente que se diz treinador/professor de futebol no Brasil?

Cabe aqui uma boa lembrança de um sistema tático que deu certo, que realmente “agredia” e fazia muitos  gols nos times adversários. Criado no ano de 1974, pelo treinador da seleção holandesa Rinus Michels, na Copa do Mundo da Alemanha, quando o seu time inovou e surpreendeu o mundo com o sistema tático chamado de “carrossel” ou “futebol total”, caracterizado por um rodízio em campo de  todos os jogadores, ora  atacando, ora defendendo em bloco, sem posição fixa, com exceção, claro, do goleiro. Na época, a boa e surpreendente  seleção holandesa consagrou para o mundo o seu atacante Johan Cruyff. Infelizmente, perdeu a final para a seleção da Alemanha.

Um outro sistema bem interessante, que data do ano de 1924, criado pelo técnico inglês do time do Arsenal, Herbert Chapman, foi o WM – 3-2-2-3, 3-4-3 –; o W no ataque e o M na defesa, chegando a formar um quadrado mágico no meio de campo.

Afirma o nosso treinador campeão do mundo em 1994, Carlos Alberto Parreira, que foi o sistema WM que deu a primeira forma inteligente de tática ao futebol.

Faz bem lembrar, o 3-3-3-1, implantado por El Loco Marcelo Bielsa, da seleção chilena de 2010, que inspirou e serviu de  base para o  famoso e consagrado treinador espanhol Pep Guardiola implantar no Super Barcelona.

Destravem, abram os ferrolhos, amoleçam, quebrem as amarras dos rígidos e duros esquemas “cadeados”, deixem os craques sossegados, soltos e leves jogarem; só assim voltaremos a ver a alegria, o encanto e o fascínio que é o futebol com gols.

 

 

 

 

 

Berilo de Castro – Médico e Escritor,  [email protected]

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Uma resposta

  1. Muito bom.Dr.jamais veremos grande atacantes e goleadores.nossa epoca passou e nao voltara pois se joga por dinheiro e nao por amor .ate a torcida virou superfluo.nao faz mais falta.o dinheiro vem de outros lugares.boa tarde.

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