ESSE CARA SOU EU? –
“Nós era sete”, graças a Deus não “fumo morrendo” e nem “só ficaram eu”, morreu sim, minha irmã Niris e o irmão José Maria, deixaram um vazio, uma saudade imensa.
Éramos sete crianças felizes, todas cheias de saúde. Todas? Não, desde criança que tive alguns problemas com a saúde, problemas que me deixaram sequelas até hoje.
Tinha aproximadamente doze anos ouvi de um médico de Natal, que em consulta chamou papai em particular e disse-lhe – Esse menino não chega aos quatorze anos. Ele falou baixo, reservadamente, mas eu ouvi tudo, daí ficar com pavor em fazer quatorze anos. Tinha pesadelos imensos, ficava no silêncio da noite, das madrugadas, ouvindo vozes. Talvez tenham sido estas vozes que me fizeram ir à luta.
Quando estava próximo de completar quatorze anos comecei a brigar com meu pai, eu tinha uma doença diferente e o tratamento com aquele médico não estava correto. Papai graças a Deus levou-me até Recife e lá veio o diagnóstico. Não era caso de morte, mas o estrago estava feito. Tinha que fazer um tratamento de dois anos e fazer algumas cirurgias (quando possível) corretivas.
Bom, quase tudo foi feito, o resultado não foi o planejado. Já tinha dezessete anos, quando tomei uma atitude – “Eu sou eu foi meu pai que me fez assim, quem quiser que me faça outro se achar que eu sou ruim”. Disse a mim mesmo – Vamos à luta. Se não era bonito fisicamente, para compensar teria que ser lindo de caráter, teria que ser uma pessoa alegre, amável, teria que fazer muitos amigos, teria que ser feliz e fazer que todos gostassem de mim. Ninguém agrada a todos, mas procurei durante minha vida esses caminhos e ainda hoje muitos me chamam carinhosamente de Guguinha.
Pois bem, a vida continuou e continua. Dóris Monteiro canta composição de Billy Blanco, De pilantra e de poeta “De pilantra e de poeta ninguém me desarme, eu sou tido como um feio, mas com muito charme, da mulher fiz o meu hino e meu estandarte, ser amante é o meu destino até que vem o infarte” (a letra diz infarte). Fiz meu hino, sou amante das coisas boas e o meu estandarte há muito tem as cores de Caícó.
Gosto adoro uma pilantragem (no bom sentido), gosto de ser alegra, ser feliz, de demonstrar que sou assim em casa ou em qualquer lugar. Não sei ficar quieto nem levar desaforo para casa. Luto por um mundo melhor.
Fiz uma cirurgia em uma das pernas, não podia andar e na hora do banho, geralmente dado por enfermeiras eu fazia uma bagunça desgraçada. Em um desse banho uma delas olhou para mim e disse. – Tai o sabonete para o senhor lavar seus troços, referindo-se aos órgãos genitais, então eu perguntei
– Que é isso mulé, chamando os bichinhos de troço, não tem nem um apelido carinhoso?
– É que aqui a gente chama a da mulher de “perseguida”, mas do homem não sabemos.
– Então, pelo menos o meu, vocês chamem “o caçador de esmeraldas”, pois vive atrás da perseguida. Foi uma festa, uma algazarra dentro do banheiro e na saída uma das enfermeiras olhou para minha esposa e disse- Estamos lhe entregando seu caçador de esmeraldas são e salvo. No outro dia já tinha certa à hora do recreio – À hora do banho. Mas é verdade, sou uma pessoa alegre e todos que me conhecem sabem disso.
Fizemos uma viagem a Buenos Aires em 2010 para comemorarmos os quarenta anos de formados. Graças a Deus a minha turma é alegre como eu. Foi à primeira vez que estive lá. Resolvermos entrar em um restaurante era portas fechadas, mas, algumas mesas e cadeiras na calçada. Eu ia à frente e quando abro a porta percebo um cidadão por trás do balcão dando vivas a Perón – era o dono. Fechei a porta imediatamente e os colegas espantados perguntaram – O que é que houve? Calma, respondi, vamos esperar um minuto. Sem entender nada, todos esperaram. Passado um minuto, abri solenemente a porta e gritei com todas as forças dos meus pulmões – Viva Perooooón – O cidadão pulou o balcão, correu me deu um abraço que me levantou do chão e gritou – Peronistas brasileiros. Ficamos “donos” do bar.
Entrevistado no programa, Memória Viva da TV Universitária o entrevistador me perguntou sobre as minhas brincadeiras de vida. Fiz a produção do programa cair na gargalhada e no fim me darem um abraço e disseram: foi a entrevista mais alegre que fizemos.
Guardo comigo e procuro sem passar para filhas e netos, amem, sejam honestos e transmitam alegria aonde estiverem.
Para completar minha vida, casei com uma linda mulher, de físico e de espírito, que completou minha caminhada.
Pois é, sou assim. Esse cara sou eu?
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN