Certa vez, quando eu cursava a faculdade de engenharia, em São Paulo,  um amigo e eu namorávamos com duas irmãs, e resolvemos sair à noite. Como sempre, nós estudantes, completamente lisos.

Claro que sempre saíamos em dupla, ou em grupo e as contas sempre contavam com a famosa vaquinha. Uns mais abastados contribuíam com um pouco a mais, outros com menos,  e assim saíamos para as nossas baladas.  Na época o nome era outro, chamávamos ou de festinha ou rolê.

Resolvemos naquela noite, eu mais o amigo, irmos a um local chamado Copão, um bar restaurante com show ao vivo com as mulatas do Sargenteli, drinks em copos enormes decorados. No final da noite eles serviam a sopa derradeira, isso lá pelas quatro da manhã.

Saímos os dois casais e um tio de nossas caras metades que tinha mais ou menos a mesma idade nossa. A noite foi fabulosa, muita conversa, muita risada e, claro as mulatas, um show à parte.

Lá pelas tantas, ainda tomando a famosa sopinha, chegou a hora de acertar a dolorosa, mas dolorosíssima conta. Eu acreditando em meu amigo Mac e ele, desafortunadamente, acreditando em mim. Cá entre nós,  juntando os dois,  mal daria para pagar um PF, o famosos prato feito na espelunca da esquina.

E veio o tal do constrangimento. Ô vergonha miserável!

Mas, como os nossos anjos da guarda ainda não estavam de porre, eles resolveram nos ajudar. Pra nossa sorte,  o tio das meninas falou grosso e chamou a conta para ele!

Que ficou chato ficou. Aquela coisa de: “Poxa sair com duro é um saco!”  “Pobre é  dose!” Enfim, a gozação foi grande.

Para não ficar por baixo, resolvi com a minha infeliz criatividade dar uma de macho!

– Vocês são nossos convidados para um jantar na sexta no Dom Fabrizio, famoso e excelente restaurante de SP. Para os que conheceram, foi o início da culinária dos Tatini, que hoje têm restaurante com o nome da família, nos mesmos padrões.  Bem, mas isso não vem ao caso.

Dia seguinte, já com elevado grau etílico, eu e o meu amigo Mac ficamos pensando em como fazer para pagar a conta no Fabrizio.

Eis que a minha criatividade novamente ataca. Resolvi, nos moldes do dia do advogado, 12 de agosto, instituir o Dia do Pendura dos engenheiros. E lá fui eu para falar com o Mario Tatini, um dos donos do restaurante que me conhecia há tempos.

Conversa vai, conversa vem, tudo resolvido para receber o grupo. Entreguei a carta solicitando e ficou tudo acertado.

Chegada a sexta, pegamos as meninas e lá fomos nós para o jantar.  O tio das meninas não quis ir porque tinha uma festa e no final fomos apenas nós.

A recepção foi excepcional e quando o garçon trouxe o menu veio a primeira surpresa, não nos deixaram escolher, informando que tudo já estava preparado. E o prato que prepararam era, isso por coincidência, o predileto das meninas e um dos mais caros do lugar. Claro que comentamos que já tínhamos preparado tudo como surpresa….

E foi uma festa de verdade, comida ótima, um vinho excepcional, sobremesas maravilhosas, uma noite de gala.

Eu, conversando com Mac, o amigo, comentei que aquela conta eu pagaria e depois acertávamos. E fiz menção de levantar para solicitar a conta, isso para falar com o Mario, claro, afinal era um pendura. Mas não deu tempo!

Chega o maitre, educadíssimo e faz a clássica pergunta, se tudo havia corrido bem e se queríamos mais alguma coisa. Já estavam servindo o café e licores, e como nada mais queríamos, ele apresenta a carta solicitando o PENDURA. Isso para que todos assinassem, pois seria afixada na porta da entrada do restaurante, para que outros grupos de nossa faculdade não mais solicitassem o mesmo.

A gargalhada delas foi o final de um quase promissor namoro.

Duro foi leva-las para casa ouvindo tanta gozação. Depois dessa, nunca mais as vimos.

Os fatos, o local e os personagens, infelizmente não são fictícios.

Roberto Goyano – Engenheiro

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