ESTOU EM OBRAS –
Não raramente encontro alguém se “lamentando” que seu imóvel está passando por uma reforma e que sua vida tá uma bagunça por causa das obras. É como se tudo estivesse às avessas, e aquele sonho planejado para tudo acontecer “direitinho” tomou outro rumo.
“Tá uma loucura”; “Não sei onde encontrar as coisas”; “Não vejo a hora para terminar”, passam a integrar qualquer conversa que o “obreiro” tenha com seus amigos.
Para animar, retribuímos com um incentivo extra: “Quando será a inauguração?”.
E você, já passou por alguma reforma?
Eu também já.
Mas aqui quero refletir sobre a reforma espiritual, aquela que convivemos constantemente e nem sempre nos apercebemos o quanto nos desinstalam, desassossegam e modificam o nosso projeto original de vida.
Muitas vezes nos consideramos prontos e acabados, esquecendo que vamos depreciando com o tempo, necessitando de manutenção permanente para dar longevidade à nossa vida útil.
Eclesiastes 3, 1-3 nos ensina que “Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu: tempo de destruir e tempo de construir”.
Temos que ter atenção, pois de vez em quando estamos a interferir na destruição como na construção do outro, tal qual um mestre de obras que, por conta própria, insiste em modificar o projeto concebido com tanto detalhe pelo seu autor.
Muitas das vezes sufocamos a individualidade e a iniciativa de alguém que espera de nós apenas e simplesmente apenas, ouvir o que o mesmo tem a dizer sobre a reforma pretendida, evitando com isso calcificar o próprio ser e inibir outras possibilidades de crescimento espiritual.
Ouvir o outro é um verdadeiro encontro entre diferentes seres e, talvez, precisamente devido a isso, tenham-se desencontros. Desencontros não como confrontos, mas como percepção que nenhum projeto, por semelhante que possa parecer, guardam as mesmas proporções e expectativas sobre os mesmos.
Isso por si só caracteriza que o meu “estou em obras” certamente é diferente do “estou em obras” do outro.
Porém, temos que valorizar o nosso projeto de reforma, evitando com isso que estejamos permanentemente deslocando a atenção da minha obra para a do outro, como se esse outro fosse o projeto ideal.
Cada um de nós desenvolve o projeto de vida e de morte que nos foi dirigido pelo Arquiteto do mundo em ensinar-nos a construir e destruir, de oferecer, aceitar e recusar, conforme o entendimento e evolução espiritual que obtemos por estarmos em permanente “obras” em nossa existência.
Estou em obras.
Diariamente me desmorono e me recrio em perceber que o mundo não tem a vocação para seguir o meu projeto. Da mesma maneira, que meu projeto não tem o apelo que o mundo quer me impor.
Sim. Estou em obras.
A todo instante recebo carradas de material “humano” e “divino”, para executar a melhor reforma possível nas minhas atitudes em benefício da obra que Deus me destinou.
E você, está em obras também?
Não se esqueça de estar atento às sinalizações dos riscos, que às vezes parece não estar presente, mas que é útil no replanejar a obra quando da necessidade de promover a sua melhora com respeito e responsabilidade, na reforma permanente que a vida exige.
Siga com sua obra!
Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])