ESTRANGEIRISMO OU BOÇALIDADE –
Um dos hábitos mais ridículos de algumas pessoas é o chamado colonialismo cultural, principalmente o vernacular, o estrangeirismo. Quando a palavra que define alguma coisa nova realmente não existe no nosso idioma, nada melhor do que enriquecê-lo com esse novo termo. De preferência como faz o nosso grande escritor Woden Madruga que costuma usar o devido aportuguesamento, escrevendo exatamente como se pronuncia: “site” passa a ser “saite”. Perfeitamente aceitável a importação de um termo que não ficaria bem chamar de “local” e já está universalizado.
Mas, porque ‘delivery’ e não ‘serviço de entrega’? Já “drive-thru” abreviação de drive-through – dirigir através – deve ser incorporado, até porque é de domínio público. A la woden (até tu, ó Brutus: “a la”?) seria draivetru… ou draivesru? Algumas palavras em inglês são totalmente injustificáveis: parking = estacionamento; open = aberto; push = é empurre (tem muita gente puxando até quebrar a porta); hot dog = cachorro quente (em Mossoró é com garfo e faca e é muito melhor!); fast food = comida rápida (tem gente lendo ao pé da letra… food!); long neck = pescoço longo? = garrafinha!; agrobusiness = agronegócio; startar ou mesmo estartar = iniciar; wellcome = bem-vindo. Aqui vai uma historinha: na época em que Eurico Gaspar Dutra foi presidente (1946-1951 – deposição de Getúlio Vargas e início da Quarta República Brasileira, até o golpe de 1964) o pessoal zombava da sua inteligência. Numa visita que fez aos Estados Unidos havia uma enorme faixa – WELLCOME DUTRA!, ao que Dutra teria indagado: – Quem danado é esse mentiroso desse Well que eu quero matá-lo?!
Outra palavra polivalente é paper. Relatório, fax, carta ou uma proposta. Daqui a pouco teremos o paper higiênico. Alguns estrangeirismos já fazem parte do nosso idioma: futebol, abajur, espaguete, grife, estresse (em vez de stress), xampu (ou shampu?)… Feedback ficou horrível – fidebeque – “retroalimentação”… alimentação por trás? Realimentação ou retorno são mais razoáveis.
Existem alguns estrangeirismos inevitáveis. Software, hardware e marketing são consagrados. Algumas palavras, como é o caso de deletar e acessar, são restritas à área de informática. Há estrangeirismos cujas traduções não pegam: Know how (conhecimento, tecnologia) e impeachment (impedimento, conforme está na Constituição Brasileira) são exemplos disso. Leiaute é outro aportuguesamento que dificilmente será usado. A forma inglesa é mais poderosa.
Certa vez numa reunião formal um dos participantes sugeriu: – Vamos dar um “time”? fiz cara de abestalhado e perguntei: – O que é isso? Ele respondeu, soberano: – Um tempo! Não consegui reprimir a minha resposta: – Então, já que estamos no Brasil e existe a palavra no nosso idioma, vamos dar um tempo!
E ainda tem uns boçais que ficam corrigindo pronúncia correta. O inglês falado na Escóssia e Inglaterra muitas vezes fala o “a” como “a” mesmo: pAst tense; glass; MAC Donald, etc. Mas, sempre aparece um americanista para corrigir: pEst tense; glEss, MEC Donald… O “A” é falado de várias formas, além das duas já citadas: como “Ei” – late, paper, bacon; como “O” – wash, water; como “EU” – to marry, etc.
Aprendi o meu parco inglês na Cultura Inglesa. Certa vez nos Estados Unidos pedi no balcão: – A glass of water, please! O garçom disse que não estava entendendo. Depois de repetir apontei para um copo, para a água e repeti. Ele não fez por menos: – Oh, yes, a gless-ovuora!
De outra feita, querendo dar uma de francesista, soltei um “s’il vous plaît”! De imediato fui corrigido na pronúncia: – O correto é “si vu plé”! Quis fazer uma aposta, mas não deu certo…
A sugestão para escrever esta crônica foi do colega Kleber Morais que, apesar de ter morado cinco anos em Paris, não tolera nenhum estrangeirismo, nem o franceses… mas, segundo ele a minha pronúncia do “muito obrigado” em francês estava correta! – Au revoir! – Ciao! Tchau! Hasta luego! Bye bye!