ESTRANHEZA… –
Estranhamente eu estava feliz. Nem me ocorreu em cogitar pensar que: Estranhamente eu estava feliz, apesar de que… a estranheza tinha o tamanho daquela felicidade, aquela que vem acompanhada com o sabor de liberdade. Exatamente por sentir a alma livre é que eu não poderia, naquele instante,condicionar minhas sensações às prisões que bagunçam os melhores momentos. Congelei para aquele tempo apenas o que era bom, sem pressões e sem máculas.
Não, eu não estava condicionando o meu sentimento naquele momento. Como eu poderia sabotar algo tão efêmero? seria o mesmo que atentar contra minha própria vida, abortando sensações que nos faz flutuar. Não entendo certas coisas, e não sofro por não entendê-las. Creio que certas coisas devem ficar nos espaços das dúvidas, das incertezas, nos lugares das coisas intangíveis. Já não procuro respostas para tudo, apenas vivo, algumas vezes entendendo, outras nem tanto, apesar daqueles questionamentos impossíveis de serem retraídos.
Os caminhos foram refeitos. Pude enxergar muitas falhas, mas elas me alegraram, de certa forma, deixaram-me estranhamente feliz, não precisava proferir palavras, elas estavam impalpáveis e inconcebíveis, por isso, deixei-as presas naquele lugar das coisas intangíveis. Seria prudente acalmar os ânimos para que, aos poucos, as coisas fossem tomando seus devidos lugares, não como antes, pois seria irreal crer que tudo poderia ser como um dia foi.
Precisava enxergar os caminhos com mais clareza, estranhamente eu me sentia feliz por perceber que ainda havia tempo para recuar, isso me deixou num tremendo espanto, algo surreal. É preciso que tenhamos esse olhar sobre o que estamos fazendo e perceber se dessa forma vai nos levar para o lugar que desejamos, não dá para se perder pelo caminho, não quando já se chegou além do que se esperava. E por isso eu me senti estranhamente feliz.
Estava convicta do poder que ela exerce em minha vida e qual seu verdadeiro propósito nesse combate cotidiano. A salvação não viria sem que antes eu me sentisse liberta. Estranhamente eu estava feliz, afinal, a escrita tem o poder de me libertar ao passo que me salva, muitas vezes, de mim mesma. Esse é o verdadeiro propósito da escrita em minha vida: libertação. Acho que posso usar também a palavra salvação. E porque não?
Estranhamente eu estava feliz. A primeira felicidade estava diretamente ligada ao fato de que eu não precisaria e nem deveria me deter em sangrar palavras, tirando das entranhas o que me faz ser quem sou, sem necessariamente ter de inventar subterfúgios rasos e grotescos.
Toda essa estranheza me deixou estranhamente feliz!
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora