Uma pessoa morreu e pelo menos outras 131 já foram infectadas pela esporotricose – doença emergente provocada por fungos e transmitida por gatos – no Rio Grande do Norte desde 2016. Isso é o que indica um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Eles estão preocupados com o crescimento no número de pacientes e animais atingidos no estado.
Essa micose chegou em solo potiguar há cerca de cinco anos. Hoje, os pesquisadores alertam que o fungo, do gênero Sporothrix, tem se espalhado muito rápido por Natal e região metropolitana, principalmente Parnamirim, Extremoz e São Gonçalo. A doença também já foi encontrada em Santo Antônio.
A única morte no estado foi registrada em uma artesã de Parnamirim no ano de 2016. Ela contraiu a forma mais grave da doença, a pulmonar e, devido demora no diagnóstico, não resistiu. A probabilidade de óbito em humanos, no entanto, é baixa. Já nos animais, a esporotricose geralmente evolui para a morte, principalmente com a demora no início do tratamento.
A infectologista Evelin Pipolo, do Departamento de Infectologia da UFRN, foi responsável por diagnosticar o primeiro caso em humanos no estado, em outubro de 2016 – nos gatos, a confirmação aconteceu em 2015.
Segundo Pipolo, os pacientes infectados apresentam geralmente ferimentos visíveis devido a mordida ou arranhão de gatos. A infecção pode ocorrer também pelo contato do fungo na pele ou mucosa por meio de trauma decorrente de acidentes com espinhos, palha ou lascas de madeira e contato com vegetais em decomposição. Basta uma microlesão ou uma simples coçada de olho para o microrganismo se instalar.
Segundo o biomédico Thales Arantes, do Instituto de Medicina Tropical (IMT/UFRN), essa espécie de fungo causa lesões mais graves e se prolifera em menor tempo quando comparada a outras, principalmente nos animais. “É importante o controle da esporotricose porque com um gato doente no ambiente doméstico, muito provavelmente, você e/ou algum membro da família irão contrair esporotricose também. As chances são de pelo menos 70%. Por isso, quanto mais rápido o diagnóstico e início do tratamento, menor será a dispersão do fungo no ambiente”, afirma o pesquisador.
Um dos fatores preocupantes é o desconhecimento sobre a doença, que pode retardar o diagnóstico – o período de incubação da esporotricose é variável, de uma semana a um mês, podendo chegar a seis meses após a entrada do fungo no organismo. O diagnóstico laboratorial dos casos humanos até o momento, tem sido realizado no laboratório da Faculdade de Farmácia da UFRN, no âmbito de um projeto de pesquisa.
Para a médica Eveline Pipolo, outra preocupação é em relação à garantia do tratamento. “A esporotricose é tratada com Itraconazol, medicamento relativamente caro para pessoas em vulnerabilidade social. Seu custo médio é de R$ 80 mensais, com um tempo de tratamento que varia de três a seis meses, podendo se estender por um ano”, explica.
Atualmente, o Ministério da Saúde tem fornecido o medicamento para o Departamento de Infectologia da UFRN, que funciona dentro do Hospital Giselda Trigueiro. Mas, para Pipolo, não é possível garantir que o fornecimento desse insumo continue por muito tempo se os casos aumentarem no estado.
Para os especialistas, a maior dificuldade está no número de animais abandonados. Eles estimam que pelo menos 150 mil felinos estejam pelas ruas, o que dificulta na forma de evitar a proliferação da micose. Até agora, 117 gatos foram diagnosticados com a doença, de 195 amostras enviadas. “O controle da doença está intimamente ligado ao controle dos gatos”, reforçou Eveline Pipolo.
A esporotricose é semelhante a doenças como carcinomas e leishmaniose. Por isso, é recomendado que os tutores, ao perceberem lesões na pele dos animais, os levem imediatamente ao médico veterinário, ou em casos extremos ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) do município, para que seja feito o diagnóstico.
Os animais com suspeita da doença não devem ser abandonados. Caso o tutor não tenha condições de tratar o animal, ele deve procurar os CCZs. Animais em tratamento devem ficar isolados, geralmente em caixas ou espaços de contenção para evitar espalhar o fungo. A medicação precisa ser administrada via oral, o que, geralmente, acarreta traumas como arranhaduras ou mordidas.
No caso de morte dos animais, não se deve enterrar ou jogar no lixo, pois como algumas espécies de Sporothrix são mais geofílicas, ou seja, têm afinidade pelo solo, elas manterão ativo o ciclo da doença. O correto é a incineração do corpo do animal, de maneira a minimizar a contaminação do meio ambiente. O ambiente onde está ou esteve o animal contaminado também precisa ser desinfetado.
Segundo o Instituto Oswaldo Cruz, 65 pessoas no Brasil entre 1991 e 2015 morreram por causa da esporotricose – 36 só no Rio de Janeiro.
Fonte: G1RN
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