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Estudo preliminar com 340 mil pessoas compara grupos, incentiva uso e comprova que máscaras são eficazes contra a Covid

Um estudo de pesquisadores das universidades americanas de Stanford e Yale, que envolveu centenas de milhares de pessoas, confirmou que as máscaras faciais são eficazes contra a Covid-19. E também apontou que grupos que usavam máscaras com maior poder de filtragem tiveram melhores resultados na redução de casos da doença.

Os resultados consideram a observação, na vida real, da evolução da pandemia entre 340 mil moradores de Bangladesh, na Ásia, que foram analisados considerando dois grupos: aqueles que usaram a proteção (e foram incentivados a ampliar o uso) e os que não a adotaram no período.

pesquisa ainda não foi revisada por pares e nem publicada em uma revista científica, mas sua versão preliminar divulgada pela organização “Innovations for Poverty Action” (IPA) tem sido apontada entre especialistas como o maior levantamento sobre o impacto de uma política de uso de máscaras contra o Sars-Cov-2.

A nova comprovação científica de que as máscaras são eficazes é avaliada como oportuna por especialistas tanto nos EUA quanto no Brasil. Nos Estados Unidos, onde a variante delta mantém em alta a curva de casos e hospitalizações, há resistência ao uso de máscaras. Governos estaduais chegaram a proibir o uso da proteção em sala de aula, o que levou a um aumento no número de casos nas últimas duas semanas, com o retorno às atividades presenciais.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro quer desobrigar o uso de máscaras e, recentemente, a subprocuradora Lindôra Araújo, da Procuradoria-Geral da República, alegou não ser “possível realizar testes rigorosos, que comprovem a medida exata da eficácia da máscara de proteção como meio de prevenir a propagação do novo coronavírus”. O próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que é contra a obrigação do uso de máscara por lei e, também, contra uma suposta “indústria de multa”.

Veja, abaixo, os principais pontos do estudo:

Por que o estudo é diferente de outros?

Estudos anteriores já comprovaram que as máscaras são eficazes em reduzir a disseminação do vírus.

Dessa vez, entretanto, os pesquisadores mediram isso em larga escala, diretamente em comunidades: 342.126 pessoas de 600 vilas na zona rural de Bangladesh participaram da pesquisa.

Antes, as pesquisas que mediram a eficácia das máscaras fizeram isso em laboratório ou com menos voluntários (centenas de pessoas).

Como o estudo foi feito?

Os estudos foram conduzidos entre novembro de 2020 e abril deste ano. Os participantes foram analisados em dois grupos. No primeiro, os pesquisadores selecionaram aleatoriamente 300 vilas com 178.288 pessoas que foram alvo de quatro diferentes tipos de intervenções para estimular o uso da máscara: distribuição gratuita de máscaras, fornecimento de informações corretas sobre o uso, campanhas públicas e incentivo através do exemplo de líderes religiosos e de pessoas de referência na comunidade.

No chamado grupo controle, que contou com 163.838 pessoas monitoradas, não foi desenvolvida nenhuma ação de incentivo, mas o oposto também não foi feito. Ou seja, não houve desestímulo ao uso de máscaras.

Não limitamos o acesso às máscaras do grupo de controle para pesquisa. Mesmo enquanto a coleta de dados estava sendo concluída, nós garantimos, pessoalmente, doações de mais de 100 milhões de máscaras para distribuir gratuitamente em Bangladesh porque a pesquisa havia mostrado efeitos positivos”, explicou Ahmed Mushfiq Mobarak, coautor do estudo e professor de Economia na Universidade de Yale.

Mobarak ainda destacou que o protocolo de pesquisa foi intensamente discutido com entidades como a Organização Mundial da Saúde, o Banco Mundial e a Fundação Bill e Melinda Gates, além do próprio governo de Bangadlesh.

Como os efeitos foram medidos e quais foram os resultados?

Ao longo da pesquisa, uma parcela das pessoas que tiveram sintomas de Covid-19 aceitaram realizar testes sorológicos (para detectar anticorpos) para atestar ou descartar a contaminação pelo novo coronavírus.

No geral, o grupo que foi estimulado a utilizar máscaras apresentou uma redução de 9,3% na prevalência de pessoas infectadas pelo novo coronavírus em relação ao grupo que não foi incentivado a usar máscaras. Nas comunidades que usaram exclusivamente máscaras cirúrgicas, a redução na prevalência foi maior: de 11,2%.

Além disso, ao final da intervenção, o grupo que foi estimulado a usar máscaras teve um aumento de 29 pontos percentuais na adoção do item. Antes, o uso era adotado por 13% da população, número que passou para 42% depois das medidas de incentivo. Mesmo com as campanhas, os pesquisadores ainda estiveram distantes de obter uma adesão total ao uso de máscaras entre a população.

O que significa o percentual de redução de casos?

Segundo os cientistas, é preciso cautela na interpretação dos resultados. “Nossos resultados não devem ser considerados como implicando que as máscaras podem prevenir apenas 10% dos casos de Covid-19”, reforçam os autores no texto.

A epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas, não participou do estudo, mas analisou os dados gerais da pesquisa. Ela ressalta que o percentual de redução de casos é significativo.

Não é um percentual baixo porque essa redução foi alcançada com um aumento modesto no uso de máscara. Além disso, considerando que a transmissão é exponencial, a prevenção de 10% dos casos se traduz em reduções futuras importantes no crescimento do número de casos“, explica Denise Garrett.

“Se um aumento modesto no uso de máscaras levou a essas reduções, o uso universal de máscaras pode levar a reduções muito maiores. Cientificamente provado e comprovado!”, comentou Garrett.

Máscaras são importantes mesmo se já temos vacinas?

As vacinas, embora eficazes na prevenção de casos graves e hospitalizações por Covid, não impedem a transmissão do vírus. Além disso, os autores alertam que o uso da proteção facial é uma estratégia barata e viável para países que ainda não dispõem de vacinas disponíveis a toda população na tentativa de diminuir o impacto do novo coronavírus.

Fonte: G1

Ponto de Vista

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