EU PECADOR –
Considero-me membro da Igreja Católica Apostólica Romana, mas, respeito quem professa qualquer outra religião… Ou nenhuma. Abracei o cristianismo por orientação familiar. Presumo que todo credo guarda propósitos que, entre outros, visam incutir a paz interior nos indivíduos e tentar promover a concórdia entre os povos.
Na condição de ser humano sou eivado de falhas e, como cristão, repleto de pecados. Preciso manter vivo, no meu âmago, o lume da fé na crença que professo tanto quanto necessito das lufadas de ar que respiro. É verdade que diante de algumas situações ao longo de minha existência essa chama pôde ter tremeluzido, porém, jamais permiti que se apagasse.
A maior provação do cristão consiste em aceitar a palavra divina incondicionalmente. Sem precisar ver para crer. A falta de fortaleza na fé atormenta alguns e gera questionamentos noutros. Sobremaneira, naqueles seres portadores de inteligências privilegiadas, capazes de perscrutar os insondáveis mistérios do universo e de se interrogarem com as suas descobertas.
Stephen Hawking, físico inglês, falecido em 2018, assim manifestou a sua religião: “Cada um de nós é livre para acreditar no que quer e, na minha opinião, a explicação mais simples é que Deus não existe. Ninguém criou o universo e ninguém dirige o nosso destino. Isso me leva a uma percepção profunda. Provavelmente, não há céu, e não há vida após a morte também. Nós temos esta vida para apreciar o grande projeto do universo, e por isso, estou extremamente grato”.
Albert Einstein, um dos maiores gênios da humanidade, afirmava: “Sou um não-crente profundamente religioso”. O físico resumiu a razão de sua existência, assim: “Os ideais que iluminaram o meu caminho são a bondade, a beleza e a verdade”.
Quantas vezes nos descobrimos perguntando a nós mesmo quem somos, de onde viemos e para onde iremos? Em quantas oportunidades, de tanto questionar a unificação de três divindades numa só, tememos nos aproximar da loucura? Onde encontrar a fundamentação para a fé? Na certeza (ou incerteza) da vida após a morte ou apenas no medo do desconhecido?
Todos esses questionamentos acontecem devido a nossa capacidade de pensar. Imaginar. Porém, também é fato que, sem peias nem cabrestos, a imaginação independente pode se transformar num orientador perigoso para os atos do homem, uma vez que todo o mal decorre das consequências de escolhas independentes.
E aí nova dúvida se manifesta: qual caminho trilhar para encontrar o equilíbrio na jornada da vida? Na minha busca incansável para essa pergunta uma resposta se sobressai dentre as demais: o caminho da confiança. Confiar na palavra. Confiar de coração aberto, até mesmo para absorver as dúvidas como ensinamentos de vida. O resto fica por conta de nossas descobertas e aprendizados.
Aprendermos expulsar da escuridão nossos medos para que, sob a luz da verdade, saibamos avaliar as suas reais dimensões. Descobrirmos a sensação de ser mais fácil viver com Deus do que conviver com a solidão. E, também, de encontrarmos em ateus convictos mais bondade e piedade do que em muitos fieis praticantes.
Atrevi-me escrever este texto após ler o desabafo emocionado da viúva de Ricardo Boechat, Veruska Boechat, durante o velório do jornalista, na primeira quinzena deste mês: “Meu marido era o ateu que mais praticava o amor ao próximo…”.
Belo exemplo, todavia, ainda acredito em ninguém estar aqui por acaso!
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor
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