EVANGELIZANDO –
Nosso caçula tem estado meio triste. Não sei se a adolescência, a pandemia, a escola… Não sei o que causou, mas, como tudo aqui em casa, penso em resolver isto ao redor da mesa. Em meio a uma semana atribulada, busco-o após a aula (ainda remota) e vamos almoçar fora, só nós dois, deixando os compromissos para depois porque, hoje, compreendo bem o que é importante e o que pode esperar.
Chegamos ao Outback, sentamos e pedimos nossas bebidas. Chá para mim, refrigerante para ele. Faço aquela olhada 360 graus no restaurante e percebo que próximo a nós tem duas mesas ocupadas. Uma com cinco garotas com uniformes da escola. Lembrei de minha adolescência e penso como é engraçado a diferença de gerações. NA MINHA ÉPOCA, saíamos para cinema (filmes dos Trapalhões) ou comprar borrachas perfumadas na loja Chung. Hoje elas saem para almoçar…
No outro lado, três moças, jovens lindas, conversando com tanta sede que logo compreendi a questão. Amigas que não se viam há muito tempo. Elas falavam e riam numa alegria doce e delicada, mas também contagiante. Mantinham sorrisos constantes nos rostos.
Continuo bebendo meu chá enquanto nosso Felipe me fala da nova banda que tem ouvido e o significado de suas canções. Vejo, por trás dele, quem eu desconfio ser o proprietário do restaurante, passar com um prato igual ao nosso pedido. Já havia passado outro prato igual para a mesa delas. Ele encaminhou-se para lá e parou. Fiquei olhando. As três não conversavam mais. Tinham fechado seus olhos e oravam. Oravam com calma, com tranquilidade, cada uma a sua vez, sem se importarem de onde estavam. Sem vergonha ou timidez. Sem pressa. E ele parado pacientemente aguardou, segurando uma porção de costelas com batatas fritas.
Ao terminarem a oração e abrirem seus olhos viram ele paradinho ali e pediram desculpa por terem o feito esperar. Ele, cordialmente, sorriu. Eu, na mesa ao lado, espectadora desta cena, pensei em como mil palavras não têm o poder de evangelizar como o exemplo.
Elas, que não sei quem são, não conheço seus nomes e, provavelmente, logo mais não lembrarei seus rostos, mostraram-me muito mais sobre fé do que muitas pregações. E me fizeram lembrar os textos de São Paulo e entender o significado mais profundo que eles carregam.
Nada como resolver nossos problemas ao redor da mesa…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora
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