EVOCAÇÕES –

Esta solenidade contempla valores significativos da memória cultural do Rio Grande do Norte. O primeiro, a inauguração do novo acesso (passarela) de 820 metros ao Forte dos Reis Magos, guardião adormecido da cidade, obra atingida com tenacidade e obstinação, tendo sofrido no seu percurso uma paralisação, mas, finalmente, executada em três etapas distintas, com recursos da Fundação Pró-Memória e do Governo do Estado.

Iniciado em setembro de 1981, a sua conclusão se concretiza hoje, graças ao apoio e a compreensão do Governo do Estado, do secretário de cultura Marcos Vilaça e do 17° Grupo de Artilharia e Campanha do Exército que cedeu parte de sua área. A antiga passarela tão polemizada, edificada em 1964, feria o visual plástico da Fortaleza e já oferecia perigo aos visitantes, face aos desgastes do tempo e a agressividade da maresia.

O novo acesso foi construído sobre o guia corrente da entrada da barra do Rio Potengi sobre taludes em pedra graníticas, apresentando duas obras d’arte em concreto ciclópico, com a fiscalização técnica da 3″ Diretoria Regional da SPHAN/Pró-Memória, sediada em Fortaleza. Mais três convênios foram celebrados nesta oportunidade. O primeiro Cunhaú. O grande gemido da história do Rio Grande do Norte. Palco do massacre de 1645, quadro dantesco, ainda suspenso no ar, intacto como no verso de Bandeira, povoado pelos fantasmas dos mistérios circundantes. Para Câmara Cascudo: “Não há trecho de terra mais sagrado no Rio Grande do Norte”. A Capela era o cemitério aristocrático dos Albuquerque Maranhão, cujo descendente Sr. Paulo Fernandes de Albuquerque Maranhão aqui se faz presente vindo do Rio de Janeiro.

Para este fim se reuniram, mais uma vez a Fundação Pró-Memória Roberto Marinho e José Augusto no processo contínuo de revitalização da memória histórica do Estado.

Por outro lado, a reedição da obra esgotada de Câmara Cascudo, “História do Rio Grande do Norte” editada em 1955, no Governo Sylvio Pedroza, através do então Departamento de Imprensa Nacional, antes de ser um imperativo, um resgate e um tributo à inteligência e a pesquisa do mestre, é uma atitude comovedora, que encontrou guarida na sensibilidade de Marcos Vilaça, que o Governo José Agripino e a Editora Achiamé, do Rio de Janeiro tornando realidade. Ao pensar assim chega-me à retentiva a figura do mestre que se pudesse aqui estar pronunciaria aquela frase emocional: “Natal, noiva do sol, minha cidade querida, deu-me o que sempre esperei, a tranquilidade do espírito, a paz do coração, o amor pelas coisas humildes do mundo, no meio das quais sempre vivi”.

O outro convênio: A restauração da Capela da Soledade, em Macaíba obedece a uma força evocativa, telúrica e nos faz reintegrar no tempo o santuário nostálgico de Dom Joaquim Antônio de Almeida, primeiro Bispo do Rio Grande do Norte, na solidão encantada diante das palmeiras centenárias “Macaíba” que deram origem ao nome da cidade, e se eternizam no espaço. Estas obras não são para os apressados, para os que só têm diante de si o momento que passa, o êxito, o ruído, a ambição, a fugacidade humana, que no dizer de Nilo Pereira, tanto engana os lógicos em detrimento dos mágicos.

Esta é uma tarde de ressurreição. De procissão de lembranças, cheia de ressonâncias interiores, nada se perdendo no areal do tempo. Por fim, eu diria como o poeta, “que revolvendo o passado, é que se escuta a palavra que envolve a unidade do gênero humano”.

Por fim, o agradecimento a Fundação Roberto Marinho, aqui representada pelo seu Diretor José Carlos Barbosa de Oliveira, pela convivência e identidade de apoio nesses últimos três anos, que resultaram em oito convênios em favor da preservação e difusão da memória histórica do Rio Grande do Norte. É bom dizer, para concluir, que o crepúsculo do tempo vivido faz hoje, mais uma vez a sua ablução na água benta de aurora.

(*) O Autor evoca quatro significativos eventos culturais que, resgataram a memória histórica do Rio Grande do Norte em pronunciamento no Forte do Reis Magos, datado de 1984, quando era Presidente da Fundação José Augusto.

 

 

 

 

 

Valério Mesquita – Escritor, Membro da Academia Macaibense de Letras, Academia Norte-Riograndense de letras e do Conselho Estadual de Cultura  e do IHGRN– mesquita.valerio@gmail.com

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