EVOCANDO “GENI E O ZEPELIM” –“Geni e o Zepelim” é uma das canções mais significativas da Música Popular Brasileira. Composta por Chico Buarque em 1978, como parte do espetáculo Ópera do Malandro, a música permanece atual e suas críticas continuam válidas.
O zepelim era um tipo de dirigível feito com material rígido, criado na Alemanha, muito usado pelos militares e como transporte de passageiros sobre os oceanos, na década de 30.
Na década de 70, o Brasil vivia sob o Regime Militar, um tempo que marcou o auge da censura no país.
Nessa época, Chico Buarque ficou conhecido por enfrentar a repressão e se posicionar abertamente contra a censura em suas composições, ao lado de vários outros artistas.
Esse sentimento se manifestava em canções sobre problemas sociais e opressão, como é o caso de “Geni e o Zepelim” e da peça teatral Ópera do Malandro.
Uma das característica que marcam as composições de Chico Buarque é a defesa das mulheres, que por muito tempo foram olhadas como instrumentos de desejo.
O compositor escreveu muito sobre mulheres (Terezinha, O meu Amor), e, em Geni e o Zepelim, ele traz essa questão de um modo diferente, ao falar sobre o uso do corpo e a discriminação da sociedade.
A letra conta a história de Geni, uma prostituta, e o preconceito que ela sofria da sociedade.
Certo dia, chega à cidade um enorme Zepelim, com os canhões apontados, com a clara intenção de destruí-la.
A cidade apavorada, não tinha como escapar.
De repente, o comandante avistou Geni, a prostituta mais hostilizada e discriminada na cidade, e enlouqueceu por ela, a ponto de negociar. Se naquela noite a “formosa dama” lhe servisse, ele nada faria contra a cidade.
Mas Geni não ficou feliz, pois mesmo sendo uma miserável prostituta, discriminada pela sociedade, sentiu repugnância, ao ser a escolhida pelo comandante do Zepelim.
Para salvar a cidade, todos correram a implorar a Geni, que servisse ao poderoso e perigoso homem: “O prefeito de joelhos/ O bispo de olhos vermelhos/ E o banqueiro com um milhão”….
Mas Geni, mesmo sendo uma miserável, também tinha os seus caprichos. Ao se imaginar deitando com o “nobre” comandante, preferia mil vezes amar com o bichos.
E todos adularam Geni para que ela aceitasse se deitar com o comandante do Zepelim, chamando-a até de “Bendita Geni”.
E Geni terminou cedendo aos apelos da sociedade hipócrita, incluindo “o prefeito de joelhos, o bispo de olhos vermelhos e o banqueiro, com um milhão”. Ela dominou seu nojo e se entregou ao tal amante, como quem se entregava ao carrasco.
O homem “fez tanta sujeira, lambuzou-se a noite inteira, até ficar saciado”. Logo amanheceu o dia, partiu no seu Zepelim prateado, deixando a cidade intacta.
Exausta, ao se sentir livre do comandante do Zepelim, Geni respirou aliviada. Mas não chegou a descansar, pois, depois que a cidade foi salva por ela, voltaram os insultos, as agressões e a discriminação de que sempre foi vítima. Agora, ainda mais desumanas:
“Joga pedra na Geni/ Joga bosta na Geni/ Ela é feita pra apanhar/ Ela é boa de cuspir/ Ela dá pra qualquer um/Maldita Geni!”
Esta composição é uma crítica à sociedade hipócrita, que via Geni, não como um ser humano, mas como um objeto de prazer.
Violante Pimentel – Escritora
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