Em meio a polêmicas e uma guerra de versões envolvendo seu trabalho na representação da mulher que acusa Neymar de estupro, o escritório Fernandes e Abreu advogados voltou a se manifestar, através de uma carta enviada ao UOL Esporte. A reportagem também entrevistou o advogado José Edgard Bueno, defensor que tentou negociar uma composição com o estafe de Neymar. Tanto no documento, assinado pelo sócio da banca Francis Ted Fernandes, como na entrevista, os advogados dizem que não podem afirmar se estuprou, mas entendem que Neymar agrediu a suposta vítima, e que ela tem elementos para provar a materialidade do crime.
“Apesar de renunciarmos ao mandato, acreditamos que nossa ex-cliente tinha provas da materialidade das agressões sofridas. Quanto à alegação de estupro, foi uma novidade para os membros do nosso escritório (…), quem decidirá se ele ocorreu ou não são as autoridades, que podem ter uma interpretação divergente da nossa”, diz a carta.
A posição é corroborada pelo advogado José Edgard Bueno, que tratou diretamente do caso. “Eu não caminharia a minha discussão e a minha estratégia para caso de estupro. Desde o início fui categórico que era caso de agressão. O que ela me relatou me convenceu de que é agressão. Não posso te falar o que aconteceu, mas eu sei o que aconteceu pelo relatto dela, desde que entrou e saiu do quarto. O que posso te dizer é que por esse relato entendo que é caso de agressão”, afirma.
Bueno também afirma que o enquadramento em agressão e a estratégia de tentar um acordo extrajudicial partiram dele, e tiveram a concordância da suposta vítima. “Nós adotamos a estratégia, comunicamos ela que era caso de agressão. Ela me mostrou as mensagens, as fotos, eu fiz a avaliação técnica de que era caso de agressão, é uma prerrogativa minha. Eu achei que não era caso de encaminhar como estupro. É prerrogativa minha, como advogado, não dela”.
“Ela concordou com a minha estratégia. Eu recomendei e ela me autorizou. Ela também não queria a exposição”, completa.
Uma reunião entre representantes do pai de Neymar e o advogado gerou polêmica. O estafe do jogador acusa Bueno de uma tentativa de extorsão. Teria havido um pedido de dinheiro para resolver o caso. Os dois advogados negam a extorsão, e afirmam que tratou-se de um encontro normal entre advogados para apresentar o caso e tentar obter um acordo, como indenização e custeio do tratamento da vítima, algo considerado normal no direito, caso os advogados de Neymar entendessem que houve crime.
Ciente do ocorrido por um conhecido em comum (do pai de Neymar e de nossos sócios), o pai de Neymar Júnior nos convidou para uma reunião em sua residência, para tratar do acordo, já sabendo da gravidade do caso. Nessa reunião ele foi representado por 2 (dois) advogados e um assessor. O representante/advogado da nossa ex-cliente, presente à reunião, expôs os fatos, que foram imediatamente menosprezados pelos representantes do jogador, os quais encerraram a reunião dizendo que não haveria acordo”, diz trecho da carta.
O estafe de Neymar nega ter sido o autor do comentário. A reportagem teve acesso a uma troca de mensagens no qual José Edgard Bueno entra em contato com Neymar pai para tentar marcar uma reunião. Bueno diz que é irrelevante quem fez o convite e considera o encontro como algo absolutamente normal entre advogados.
“Aí é jogo de palavra. É absolutamente irrelevante quem convidou quem. O fato é que nós entabulamos uma conversa para tratar do assunto e ele (Neymar pai) me convidou para ir pra casa dele. O cara fala de extorsão, não tem isso. Foi uma conversa numa boa, conversa de advogados. Mostra uma imagem minha borrada (entrando e saindo do elevador do prédio). O cara armou isso aí como estratégia de defesa dele? Absurdo. Então ele usou a minha presença lá pra fazer a defesa dele? Não quero nem discutir isso. Se ele acha que eu extorqui, vou responder no processo” afirma.
“Evitar desgaste, exposição midiática, exposição desnecessária. Tentar resolver a questão, para fazerem análise das fotos. Eles nem quiseram ver. Para que eles conversassem com o próprio Neymar, para ver o que aconteceu. Se a gente chegasse à conclusão de que ele realmente havia cometido delito, a gente poderia entabular um documento que se chama de transação em caráter confidencial. Para que levar isso para o judiciário se a gente poderia resolver antes? Esse processo é absolutamente normal. Esse era o objetivo, não expor ninguém”, completa.
Bueno não recorda se utilizou o termo “cala boca” para se referir a algum repasse de dinheiro por parte de Neymar pai à sua cliente. “Não, acho que não. A conversa num dado momento ficou mais dura, mas não falei isso, não me recordo de ter falado isso. Sou um cara muito coloquial, não sou de ficar medindo palavras. Se ele pegar o contexto da conversa inteira…mas não me recordo de ter falado isso”. Os advogados afirmam que, depois dessa reunião, abalada emocionalmente pela postura do estafe de Neymar, a mulher que o acusa utilizou pela primeira vez a palavra estupro.
“Á partir desse ponto a nossa ex-cliente passou a adotar uma postura diferente, falando, em troca de mensagens ao nosso sócio, que teria sido “agredida e estuprada”. Ato contínuo, nossa ex-cliente procurou a delegacia sem a nossa presença, e denunciou o fato às autoridades, o que é um direito dela, mas nos colocava em uma situação incompatível com a estratégia que tínhamos traçado para o caso, motivo pelo qual decidimos renunciar ao mandato em 01/06/2019″, diz a carta enviada pelo sócio do escritório.
Apesar de explicar a reação e dizer que não considerou que o caso reunia os elementos de estupro, Francis Ted Fernandes encerra a carta se solidarizando com a mulher que acusa Neymar, e repudiando os ataques públicos a ela.
“Por fim, apesar de estarmos fora do caso, nos solidarizamos com a dignidade da nossa ex-cliente, repugnando todas as manifestações preconceituosas a ela dirigidas, bem como todas as tentativas diminuir sua pessoa. Somos todos humanos e nada justifica a investida de pessoas que tentam tirar a dignidade de outras seja por qual motivo for. Não compactuamos com o linchamento público de uma mulher que tem direito a exercer sua pretensão de justiça, como qualquer um de nós”.
Fonte: Uol