EXALTAÇÃO À NEGRITUDE –
O continente berço da civilização possui, além de belezas naturais, as criadas pelo homem.
O “Movimento Negritude” opera grande mudança de conceito não apenas na África. O Museu das Civilizações Negras, sonho do poeta Léopold Sédar Senghor, foi recentemente inaugurado em Dakar. A China financiou a construção com o equivalente a trinta milhões de euros. Os catorze mil metros quadrados do Museu abrigam centenas de belas peças da singular criatividade africana. Trinta delas remetidas pelo presidente Macron.
O Poeta foi o maior ativista e divulgador dos princípios da negritude. A sua vida honra a humanidade. O senegalês viveu utilmente na França, inclusive, ensinando francês. Segregado em campo de concentração nazista, aproveitou a permanência para aprender alemão. Foi o primeiro africano diplomado pela Universidade da Sorbonne e a integrar a seleta Academia Francesa, derrotando excelentes escritores franceses. Também foi o primeiro negro a exercer a função de deputado na Assembleia Constituinte de 1945.
Senghor foi o primeiro Presidente da República do Senegal. Na presidência, visitou o Brasil por duas vezes, em 1964 e 1975. Aqui, conquistou a simpatia popular, bem como a dos intelectuais, jornalistas e da administração pública. Defendeu maior aproximação econômica e cultural entre os nossos países não apenas por razões étnicas, mas pela latinidade, francesa e portuguesa, com os seus valores culturais.
Na Academia Brasileira de Letras, foi saudado, com entusiasmo, por Alceu Amoroso Lima e propôs novos e acrescidos vínculos de amizade de uma natural comunidade Luso-Afro-Brasileira. Reconheceu o Brasil ser “O Farol do Terceiro Mundo”. Pregou a independência dos países africanos (Angola, Moçambique e Guiné Portuguesa), preservando a amizade com os povos colonizadores, como havia feito o nosso país: “rechaças-te a tutela sem renegar-lhe a cultura” e acrescentou: “o que menos admiro é a mestiçagem biológica comparada à simbiose cultural”.
Em 1964, mantive uma coluna intitulada “O Mundo Faz Espanto”, no jornal católico semanal “A Ordem”. Escrevi um artigo sobre Senghor. Um ano depois, para a minha surpresa e alegria, recebo um telefonema do presidente da Ordem dos Advogados dizendo que lá estava para mim uma correspondência com timbre da Présidence de la Republique du Sénégal. Consta na carta do presidente: Croyez que j’y ai été particulièrement sensible, d’autant que Natal est la ville brésilienne la plus proche du Sénégal. Ou seja, creia que estou particularmente sensibilizado, ainda mais que Natal é a cidade brasileira mais próxima do Senegal.
Fui comentar esse meu instante luminoso com Vicente Serejo e este me relatou um fato muito mais notável. Ele, repórter, soube da presença de Senghor no aeroporto Augusto Severo e decide entrevistá-lo. O seu intérprete foi nada menos que o poeta diplomata João Cabral de Melo Neto.
O primeiro louvor à beleza e perfeição negra é do rei Salomão, no seu “Cântico dos Cânticos”. Lá, diz a sua amada amante: “Sou negra, mas sou bela”.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN