EXAMES  –

Tirei um dia de folga para fazer exames médicos.  Não era bem isso que eu tinha em mente.  Achava que teria um tempo para caminhar na praia, ver uma série,  terminar um livro, coisas deste tipo. Porém, comecei o dia sendo furada como um peru em véspera de Natal onde busco colocar tempero em toda a sua carne. Agulha para cá  e para lá dentro do meu  braço  até,  enfim!, sair sangue em quantidade para satisfazer a funcionária do laboratório. Mais de 10 horas de jejum e eu me questionava se tomaria um café com croissant numa padaria francesa aqui perto ou se voltaria para casa e optaria por uma tapioca com queijo coalho e chá mate. A casa venceu e retornei salivando,  pensando no meu desjejum.

Decidi, antes de qualquer coisa, marcar uma ultrassonografia que me foi pedida para acompanhamento de meu histórico médico. Fui surpreendida com uma desistência para 2 horas mais tarde e aceitei de bom grado ocupar este espaço na agenda médica. Mas… precisava manter o jejum e a bexiga cheia.

O que fazer para não pensar em comida? Faxina.

Pego as ferramentas necessárias e me movo entre livros e objetos no quarto de nosso caçula.

Termino e vou me arrumar, sendo sacudida pelo som dos roncos de minha barriga.

– A médica está atrasada 30 minutos.

Sou avisada pela recepcionista. Não reclamo. sou um encaixe, gente! Como vou reclamar?

Sento com um livro, roncos incessantes que, tão altos, assustaram a pessoa sentada mais próxima a mim  (respeitando o distanciamento de 1,5m!) e dobro minhas pernas em um ritmo frenético pensando no xixi que está ansioso por deixar meu corpo.

Até  que… meu nome é chamado.

Deito na posição correta e sinto o arrepio dominando meu corpo com o contato do gel gelado em minha barriga. Não sei quanto tempo mais vou suportar segurar esse xixi…

Então, exame para cá,  perguntas para lá  e a médica  me diz calmamente:

– Não sobrou muito em você para olhar, né?

– Verdade, meu anjo. Meu filho diz que já tiraram tantos órgãos de mim que estou me transformando em um espantalho.

Ela sorri e completa:

– Desta vez não precisamos remover nada. O que sobrou está bem.

E eu esqueço  a fome, o xixi, o incômodo do gel gelado e só consigo lembrar de agradecer a Deus por este presente.

Volto para casa e tenho, à mesa, café e tapioca feitos pelo meu esposo e a certeza de que Deus  tem um jeito fantástico de nos mostrar sua presença em nossas vidas…

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora

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