EXCESSIVAMENTE REFLEXIVO –
Morri de tédio.
Deprimi com isso.
Estou acabada.
Nunca mais faço isso.
Penso em quantas vezes este tipo de frase se repete em nosso dia-a-dia e se isto é comum em outras línguas. Lembro de minhas aulas de português e das hipérboles, pleonasmos e mais outras figuras de linguagem. Sim, eu amava estudar gramática. E matemática. E não estou usando as figuras de linguagem neste momento. Amava mesmo!
Então, algum tempo atrás, numa conversa na biblioteca, ouvi uma aluna relatando sua vida e as dificuldades que estava passando, inclusive uma depressão. E, outra pessoa nos disse:
– Odeio quando alguém me diz que tirou nota baixa e ficou deprimido.
Eu lembrei instantaneamente de uma conversa com nosso filho quando ficou em recuperação por uma nota baixa. Flávio disse a ele:
– Engraçado… Você tira nota alta, mas a nota baixa é o professor quem te dá?
Ele aprendeu a lição e não repetiu mais essa frase. Repetiu a nota baixa, mas isso não vem ao caso neste momento…
Voltando ao papo do “odeio quando alguém diz que está deprimido”, eu perguntei a ele se tinha um motivo especial. Sim, as vezes as pessoas precisam falar sobre algo e não sabem por onde começar. Achei que era isso.
Ele me contou sua luta contra a depressão. O vazio que sentia. A solidão. O escuro. E os anjos que tentavam erguê-lo.
Então, entendi como aquela frase exagerada e despretensiosa que tantos repetem sem nem sentir seu peso – “fiquei deprimida com meu peso”, “fiquei deprimida com o resultado do jogo”- pode doer em alguém.
Hoje ouvi um desses exageros novamente e imediatamente meu cérebro resgatou o aprendizado. Eu respondi com carinho:
– Não, meu anjo, você não está deprimida por ter se atrasado. Você está triste, cansada da correria, desgastada com os afazeres… Como muitos de nós. Você tem filhos na escola, consulta médica marcada, pendências no trabalho para resolver… Como muitos de nós. Você não teve um dia bom. Talvez seu esposo também não tenha tido. Seus filhos também. Mas, amanhã é um novo dia. É a chance de recomeçar. De chegar na hora aos seus compromissos. De fazer diferente aquilo que não te agradou hoje. E, se não chegar na hora, se o pão queimar, o pó do café acabar, o leite derramar… o mundo não vai acabar. Pede desculpa, limpa o chão e segue o jogo.
E, assim, a gente vai tentando ver o mundo com olhos caridosos. Porque a gente não sabe, não conhece as dores do outro e, sempre, sempre, em todos os momentos, precisamos tocar o seu mundo com carinho.
Aliás, carinho, amor e compaixão, por maiores que sejam, nunca, definitivamente, podem ser vistos como figuras de linguagem!
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora
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