Dalton Mello de Andrade

            Ano de 1949. Recém saído do Atheneu, no ultimo ano de Contabilidade do Colégio Marista. Tempo dos Irmãos Maristas,  e ainda falando francês. Lembro  alguns professores. Alguns leigos, como Fernando Galvão, que ensinava Português; Argemiro Figueiredo, Contabilidade; Odyr Costa, Estatística. Irmão Pedro, Inglês; Irmão (Jacaré) Estevam, Matemática; Irmão Flávio, que era o Diretor, Ciências. Lembranças.

            Fui convocado pelo Exército. Quando me apresentei, fiz valer o meu direito e desejo de fazer o CPOR (Curso de Preparação de Oficiais da Reserva), que, naquela tempo, era no Recife. Meu pedido foi aceito e fui mandado me apresentar lá. O Exército tinha um vôo com um avião fretado da Cruzeiro do Sul, um Junker JU-52, alemão, de três motores, herdado da antiga Condor, e que ligava Natal, Recife e Fernando de Noronha. Nesse vôo, fui para Recife e apresentei-me no quartel do CPOR, que ficava num prédio antigo em Madalena. Desses prédios que tem uma escada larga logo na entrada e que se bifurca em duas,  levando ao primeiro andar.

            O sentinela me mandou subir e orientou a sala do Comandante, Capitão Montanha, a quem deveria me apresentar. Cheguei na porta dele, um soldado entrou para avisá-lo da minha presença e mandou que entrasse. Cumprimentei-o, entreguei o ofício do quartel de Natal me apresentando e fiquei meio escorado no bureau dele. Recebi uma lição que nunca esqueci: “Você está num quartel. Aqui você é um soldado. Desencoste da mesa e assuma uma posição de sentido. Não seja relaxado”. Leu o ofício e me mandou para o exame médico. Foi marcado para dois dias depois e eu fiquei zanzando, no ínterim.

            Quando fiz o exame, fui reprovado por problemas de visão. Não sabia que tinha problema e nem usava óculos, mas o médico foi taxativo e  me dispensou. Miopia, diagnosticou. Numa semana, entrei e saí do Exército.

            E aí tive minha segunda experiência. Com os papeis da dispensa, fui à 24a. CR, nesse tempo comandada por um conterrâneo nosso, Major Aluizio Moura. A CR ficava onde é hoje o Colégio Churchill. Entreguei a dispensa, e ele mandou processar a documentação. Que tenho até hoje. Reservista de 3a. categoria. Quando fui buscar o documento, chamou um sargento para pegar minha assinatura e impressão digital. Sujei o dedo e limpei numa parede perto, já super suja de tudo quando era dedo que já tinha passado por ali. O sargento não gostou e me deu uma bronca. Pedi desculpa e o Major, que já há muito conhecia e era amigo de meu pai, disse ao sargento: essa parede já está imunda, um dedo a mais ou a menos não faz diferença. Vamos mandar pintá-la e aí sim, ninguém mais vai por o dedo.

            De vez em quando me lembro dessa história. Primeiro, por voar no JU-52, avião famoso da II Guerra. Foi usado pela Luftwaffe para transportar seus pára-quedistas, para tomar o forte de Eben-Emael, Bélgica, na invasão da França em Maio de 1940 e, depois, na invasão da Ilha de Creta, em Maio de 1941, quando os alemães foram socorrer os italianos, seguidamente derrotados na campanha da Grécia. Anos depois, na Alemanha, Colônia, comprei uma miniatura desse aeroplano, que tenho até hoje.

Dalton Mello de AndradeEx-Secretário de Educação do RN

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