EXPERTISE? SIM, EXPERTISE! –

Lá estou eu assistindo à milionésima “live imperdível” do período pandêmico. Já vi de tudo. Tudo mesmo. Assim espero! Foram coisas estranhas, desnecessárias, proveitosas, vantajosas… Um turbilhão de ensinamentos para a vida e de como não agir na vida… Vi políticos que soltaram pum ou dormiram em meio a uma votação importante para o povo, esposas que passaram nuas diante das câmeras de seus esposos,  homens que fizeram “nude” em lives alheias. Recebi todos estes, em meio a mensagens importantes, em alguns grupos de WhatsApp…

Vi crianças entrando intempestivamente nas reuniões alheias e nossa própria Pretinha, uma Yorkshire charmosa e temperamental, já participou de aulas minhas por ter se incomodado com um latido a quilômetros de distância e resolveu retribuir o diálogo no momento que eu explicava a importância da mitose.

Por outro lado, vi psicólogos falando sobre como lidar com a ansiedade, médicos explicando como cuidar de nossa saúde nestes tempos loucos, padres falando sobre a beatificação de Carlo Acutis, professores falando sobre diferentes tipos de jogos para usarmos como metodologia de ensino.

Em algumas, confesso, prestei mais atenção ao fundo da imagem que no conteúdo dito. Será que eles – aqueles que estão dando explicações sobre mil assuntos – têm tantos livros assim? Ou já os leram? Ou aquilo seria papel de parede? Em outros momentos pensei se seria realmente importante um médico falar sobre oximetria diante de uma estante cheia de garrafas de bebidas alcoólicas. Exibição do bar da casa. Nem sabia que isto ainda era moda… Em outros, fiquei assustada com a imagem de fundo desfocada e como o indivíduo me pareceu… estranho! Tempos engraçados estes…

Fiz uma live que não era live para falar como nem toda live é importante. Claro, como brincadeira, me diverti com isso.

Quando o pano de fundo não me tira a atenção e eu consigo me conectar com o discurso inflamado ou calmo como a brisa, geralmente é maravilhoso. Digo “geralmente” porque já ouvi uns discursos tão sem pé e sem cabeça que passei minutos preciosos assistindo só para saber se ele – o indivíduo falante – conseguiria expor uma ideia concreta. Confesso que não conseguiam, na maioria das vezes…

Em algumas me chama a atenção como o indivíduo cheio de conteúdo fala. Alguns como se fosse uma conversa entre amigos, tomando cafezinho. Estes me atraem, cativam. Mas, outros… Parece que falam num palanque para mil pessoas enquanto estávamos apenas sete pessoas presentes e, logo, somente seis, pois fugi rapidamente desta loucura.

Nesta semana um começou a falar em “expertise”. Assim que ouvi, virei para meu esposo e disse:

– Nunca consegui encaixar esta palavra em uma frase.

– Você não se acha com expertise para dizer expertise numa frase?

– Não me acho!

Não me sinto preparada para dizer palavras como “expertise”, “obsequiosamente”, “parcimônia” em meio a uma conversa. Soam de forma presunçosa na minha voz.

Não sei… Talvez esteja vendo problema onde não existe, mas na ausência de possibilidade de encaixar esta palavra tão buscada nas lives atuais, digo, cheia de pompa, que me sinto fantástica escrevendo um texto chamado expertise… mesmo que não signifique muito para mim, nem para você…

Não tive expertise?

Realmente, esta palavra não foi feita para mim…

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora

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