EXPRESSÕES POPULARES NORDESTINAS –

O povo sabe se comunicar. A riqueza vocabular no Nordeste brasileiro encanta e faz pensar. A maioria, naturalmente, tem origem portuguesa, além de africana e indígena.

Herdamos expressões como esta: são outros quinhentos (usada por Camões no século XVI). O poeta Luís Carlos Guimarães estava em Lisboa quando viu passar um carrinho de frutas. Como se estivesse em Currais Novos, ele provou uma frutinha. O português irritou-se: “cu-de-mãe Joana, o senhor pagou?”.

O nordestino é religioso e tem intimidade com os santos. Usa Minha Nossa Senhora, ou seja, dois possessivos. Minha mostra intimidade. Vixe Maria é interjeição de surpresa, certamente o “x” de influência galega, como oxente.

Quenga é prostituta. As expressões variam de acordo com o contexto. Vamos cuidar, ou cuidar da vida para dizer que devemos cumprir o nosso dever de trabalho. Já cuide da sua vida é aviso de que não se meta na minha. Talvez porque não tem a polpa do coco, é sem miolo, desmiolada. Ela presta serviço com o xibiu, de origem africana, que significa pequeno diamante.

Quando se quer dizer que alguém deve se comportar, ter juízo, diz-se: tome tento. A namorada de um, hoje, líder educacional, sentindo-se traída, escreveu: “Faço uma cruz para nunca mais falar no seu nome”. Fazer uma cruz é selar um juramento.

Boca da noite, ou seja, pouco tempo depois do crepúsculo. A noite começa a engolir o dia. O compositor Toquinho canta: “Cheguei na boca da noite – saí de madrugada”.

Há um hino dedicado à nossa família que diz termos lundum, lundum, ou seja, mudar de humor. Por momentos perdemos o bom humor, ficamos zangados, com ou sem razão aparente.

A nova e novíssima geração têm vocabulário próprio. O inglês top (elevado) ganha superlativo nativo: Topíssimo é mais que superlativo: Top das galáxias. Um rolé. Topzera é festa boa. Ao amigo diz-se bro, diminuição de brother. Boy é aplicado a ambos os gêneros, a boy, uma boyzinha. Greia significa engraçado. Se persistirem, essas expressões serão dicionarizadas.

Vender vento. O Rio Grande do Norte é o maior produtor brasileiro de energia eólica. Muitos proprietários rurais passaram a ter excelente fonte de renda. E deles já há quem diga que estão vendendo vento.

Temos admiráveis estudiosos da nossa linguagem popular. A começar por Luís da Câmara Cascudo em “Coisas que o Povo Diz” e “Locuções Tradicionais no Brasil” (ele me deu o privilégio de escrever a orelha desse livro). Outros escritores: Eloy de Souza, Oswaldo Lamartine, Protásio Melo, Cleudo Freire. O professor João Maria de Lima pontifica semanalmente nesta “Tribuna”.

As expressões populares identificam pessoas, grupos, conferem valor de identidade da região. Ter caráter também em linguagem é próprio de nós, nordestinados.

 

 

 

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *