FAÇA AMOR, NÃO GUERRA –
A citação acima, no original “Make love, not war”, atribuída ao maior escritor da língua inglesa, William Shakespeare (1564-1616), serviu de palavra de ordem nos Estados Unidos, entre os anos 60 e 70, para manifestantes que se opunham ao envolvimento do país na guerra do Vietnã.
Num tempo e numa nação onde predominava o puritanismo, assistir jovens manifestantes insinuando a prática de “fazer amor”, livremente, em detrimento da guerra a fim de alcançar a paz e a felicidade foi o absurdo dos absurdos.
E, já que o foco é a felicidade, cabe aqui relembrar o filósofo grego Epicuro (341 a.C – 270 a.C), considerado o Profeta do Prazer – “… o prazer é o início e o fim de uma vida feliz; o homem é inclinado a buscar o prazer e a fugir da dor”. Em resumo, defendia que a felicidade é a ausência de dor.
Epicuro não acreditava em Deus nem na imortalidade. A vida, afirmava ele, ser uma tragédia; estamos no mundo por acaso e depois da morte não existe outra vida. Dizia, também, que era dever do homem tornar a vida presente a melhor possível sem dor e sempre procurando o prazer, tanto o emocional como o físico. A essência desse pensamento está contida na sua doutrina: o epicurismo.
Retornando à realidade de nossos dias, como falar de felicidade para ucranianos estando eles envolvidos numa guerra absurda e inconsequente não provocada por eles, e cuja única perspectiva de futuro que possuem se resume a variadas modalidades de dor.
Como falar de felicidade para milhões de brasileiros miseráveis que adormecem com a dor da fome para sonhar desfrutando da felicidade de obter um prato de comida para o dia seguinte. É difícil assimilar tanta desigualdade mesmo cientes que tais ocorrências se repetem desde os primórdios da humanidade.
O único consolo para essa dor que acarreta a infelicidade de tantos humanos é o sentimento de solidariedade que brota no âmago de muitos semelhantes da espécie. Sentimento esse que nasce da piedade, da compaixão pelo sofrimento alheio.
A desigualdade social nunca deixará de existir no seio das sociedades de quaisquer raças, credos, origens ou governos. Todavia, nada nos impede de deixar nascer, vicejar e praticar a solidariedade. Seja ela isolada ou associativa sempre amainará uma parcela de dor e fará brotar alguma nesga de felicidade em algum de nossos semelhantes.
Não sou adepto do epicurismo, tampouco concordo com a finitude da existência de estarmos na Terra por acaso. Sofro com a dor de meu semelhante e me alegro com a inocência e o sorriso de uma criança feliz. Entendo ser impossível remediar o irremediável, porém admito ser viável minorar as consequências do estrago exercitando a solidariedade.
A vida humana é um sopro de tempo, sim, mas nada impede que nesse intervalo pratiquemos, humanamente, a solidariedade com aqueles que vivem em condições sub-humanas.
Para concluir este momento de divagação, deixando o contraditório de lado, num ponto concordo com Epicuro e Shakespeare: fazer amor traz mais felicidade que a dor de fazer guerra.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil