FALANDO COMIGO MESMA –
Não consigo me silenciar. Pergunto-me se gosto daquela calça. Respondo que é bonita, mas não deve ficar legal em mim mesma. Comento, chateada com esta observação:
- Por que não ficaria boa? Estou gorda?
- Não, mas amarelo não te favorece. Você não tem levado sol!
O sol! Esqueci do sol! Preciso de cinco minutos diários, segundo a médica, e mal tenho tido cinco minutos na semana!
- Você precisa se cuidar mais!
- Mais? Fiz meus controles médicos, tomo as medicações indicadas, faço exercício.
- Acha que isso é suficiente?
- Não, claro que não. Por isso leio todos os dias e tento ver um episódio de série tod…
- Está vendo?
- O quê?
- Faz por obrigação, não por prazer.
- Sinto prazer nestas obrigações.
- Mas, vê como obrigação.
- Se eu não me obrigar, não terei tempo para mim!
- Isto é obrigação, mas precisa ser prazeroso!
- A vida precisa ser prazerosa.
- Seja leve.
- Estou tentando! Me ajude.
- Estou te ajudando. Mostrando a você que precisa mudar.
- De novo?
- Sim, de novo. Sempre.
- Nunca ficarei satisfeita comigo?
- Espero que não!
- Nunca sentirei orgulho de mim?
- Devia sentir constantemente!
- Isto não me tornaria insuportável?
- Orgulho é diferente de “orgulho”…
- Mas, andam tão pertinho um do outro…
- Como amor e ódio!
- Está dizendo que me odeio?
- Claro que não. Pare de ler nas entrelinhas.
- Não posso! Sou uma mulher!
- Kkkkkk melhor desculpa…
- Preciso me afastar de você.
- Às vezes, precisamos mesmo.
- .. se eu me afastar de você…
- Sim, estará se afastando de si mesma.
- E isto é bom?
- Isto é péssimo!
- E por que me mandou me afastar?
- Para perceber como você é importante.
- Te amo!
- Também te amo…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora