Eugenio Bezerra Cavalcanti Filho
Tempos atrás, em conversa com um amigo, divagávamos sobre a idade dita provecta, e dos seus altos e baixos resultantes. Por um lado nos favoreceria a experiência acumulada e a expansão da inteligência, por outro começavam a nos fustigar pequenos incômodos, naturais dessa transição, tais como certas falhas de memória, que vez por outra estaríamos a constatar. Isso, pelos informes de companheiros da mesma faixa etária, se configura como uma constante, em maior ou menor escala, e que acometeria mesmo aqueles que ainda mantenham uma capacidade de memória tida como privilegiada. Acho até que eu possa estar incluído no rol desses últimos mencionados, haja vista a lembrança perfeita de fatos e situações ocorridos quando me achava ainda em tenra idade.
Há alguns anos me ocorreu uma dessas pequenas falhas a que me referi, e que passo a relatar, para que tenham a ideia precisa daquilo que nominei como pequeno incômodo, e que talvez acometa, eventualmente, maior número de pessoas do que imaginamos. E sem que isso venha a se catalogar como algo preocupante. Teve início, naquela época, um novo teledrama global do primeiro horário noturno, qual seja a novela das seis. Chamou-me a atenção a música de abertura, (comandando a trilha sonora do espetáculo), por me ser familiar a melodia. Forçando a memória, acabei por concluir se tratar de versão nacional, com letra em português, de um antigo sucesso da década de 50, e que lembrava bem ter ouvido na voz do grande Frank Sinatra. Dando mais tratos à bola, cheguei a recordar a frase inicial do estribilho, que eu julgava ser assim: “another world” (outro mundo). Mas, como da letra só me vinha esse pequeno trecho, fui pesquisar com o que eu dispunha. Contudo, as músicas que encontrei nada tinham a ver com aquela procurada. Tentei me valer do nome do cantor, sem também ter tido qualquer êxito. Quando já estava perto de partir para uma honrosa desistência, achei que valeria a pena, como última cartada, dar uma olhada na letra nacional, com o que poderia (quem sabe?) encontrar alguma provável associação que me levasse à letra original em inglês. E os versos seriam esses:
LEVA-ME PRA LUA – Ana Caram
Leva-me pra Lua
Quero ficar entre as estrelas
Deixa-me voar
Em direção a este lugar
Dá-me tuas mãos vem comigo
Vem me encontrar nesta viagem
Leva-me pra onde
O amor exista de verdade
Onde a felicidade
Só procure por nós dois
Em outras palavras quero dizer
Que eu vou ficar com você
Nessa versão em português, o estribilho, de duas frases, é diferenciado: o primeiro começa com “dá-me tuas mãos”; e o segundo se inicia com “em outras palavras”. Foi então que matei a charada: se tratava, destarte, de “in other words”, e não “another world”, como havia pensado. Ou seja, a memória havia funcionado, mas com um pequeno erro. Por sorte minha, o autor da versão teria traduzido ao pé da letra essa parte do estribilho, e aí ficou fácil encerrar a pesquisa com resultado útil. A letra original, por fim, seria essa:
FLY ME TO THE MOON – Frank Sinatra
Fly me to the moon and
Let me play among the stars
Let me see what spring is like
On Jupiter and Mars
In other words, hold my hand
In other words, baby kiss me
Fill my heart with song and
Let me sing for ever more
You are all I long for
All I worship and adore
In other words, please be true
In other words, I love you
Descobri, ainda, que a música é de 1954, e que foi gravada por muita gente boa, como Johnny Mathis, Nat King Cole, Sarah Vaughan, Connie Francis, Neil Sedaka, Doris Day, Tony Bennett, e Frank Sinatra (a mais famosa e conhecida das versões, em 1964). Mais recentemente foi também gravada por Agnetha Faltskog (do grupo ABBA), Willie Nelson, Diana Kroll, e o Rod Stewart. Foi ainda gravada pelo nosso Djavan, em inglês, constando do seu CD “Ária”.
Bem romântica, a abertura da novela “Amor Eterno Amor” (exibida pela Tv Globo, de março a setembro de 2012), e narra o encontro do menino Carlos com seu amor de infância, Elisa. O diferencial do trabalho é que foi feito todo em desenho, projeto de autoria do gerente de vídeos gráficos Alexandre Pit Ribeiro, membro da equipe de produção do Hans Donner. O conceito, pensado desde o início, para concepção de ser feito o trabalho em desenho, tem explicação. “O interessante da abertura é que remete ao protagonista, que gosta muito de desenhar”, disse o diretor Paulo Ghelli.
A letra da música, na versão nacional, ficou um pouco diferente, como se nota pela tradução livre que ora transcrevo:
VOE COMIGO PRA LUA
Voe comigo pra lua,
Deixe-me brincar entre as estrelas.
Deixe-me ver como é a primavera
Em Júpiter e Marte.
Em outras palavras, segure minha mão!
Em outras palavras, querida, beije-me!
Enche meu coração com música e
Deixe-me cantar para sempre.
Você é tudo o que eu anseio,
Tudo o que eu venero e adoro!
Em outras palavras, por favor, seja real.
Em outras palavras, eu lhe amo!
Eugenio Bezerra Cavalcanti Filho – Empresário e escritor
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