FALTOU NOMES DOS BOIS, NA AVENIDA –  Rinaldo Barros

FALTOU NOMES DOS BOIS, NA AVENIDA –  

Escolas de samba poderosas – financiadas pela contravenção – e blocos de rua de todo quilate espalhados pelos quatro cantos do país deram seus gritos de guerra, no reinado de momo, bradando “contra tudo o que está aí”. A crítica a mais de uma década de “malfeitos” é válida. Mas, quando deixa de nominar os bois envolvidos, não só não se presta a melhorar o país, como pode ser usada como ferramenta partidária, cujo objetivo é dividir o país, em “nós e “eles”.

Carnaval é, por excelência, lugar da sátira e da brincadeira. Vindas daquela que é tida como “mais autêntica” manifestação popular, as críticas acabam sendo saudadas como se fossem a apoteose da Verdade. Nem sempre se justifica, contudo, e não estão imunes a serem utilizadas pelos interesses dos que muito mal fizeram aos brasileiros, e que foram descobertos.

Em alguns dos sambas-enredo mais celebrados deste ano, a corrupção foi tratada como geleia geral: lambuza a todos indistintamente. Será verdade?

Aqueles que protagonizaram os maiores escândalos da nossa história, flagrados e tirados do poder, devem ter adorado: o samba, esse nosso orgulho cultural, igualou a todos na lama.

É curioso, para dizer o mínimo, que o ápice da roubalheira flagrada nos anos recentes não tenha obtido das passarelas a mesma atenção que outros “malfeitos” mereceram neste ano. Não se tem notícia de enredo, samba ou marchinha de sucesso tratando da Lavajato, do mensalão, do petrolão, do tríplex à beira-mar, do sítio com torre de celular ao lado, das falcatruas com o orçamento federal, da quebradeira que se abateu sobre as contas públicas.

Mistificou, ao invés de esclarecer. As reformas necessárias foram igualadas a mazelas seculares, protestos legítimos foram caricaturados, heranças cartoriais foram retratadas como salvaguarda do povo.

A lambança tornou-se generalizada, como se todos nós estivéssemos nos locupletando (pode ir ao dicionário). Penso que os brasileiros devem manter e ampliar o espírito crítico, a inquietude e a capacidade de se indignar. Mas ela não pode ser meramente genérica, sorrateiramente indiscriminada.

 A crise, sem precedentes, tem responsáveis com nome e sobrenome, mas estes ficaram fora do enredo dos sambas que se ouviu pelo país.

Confesso que durante os governos do PT, fiquei surpreso. O que o PT fez pelos menos favorecidos foi elogiável, reconheço. A maioria dos brasileiros parecia feliz e Lula deixou o poder com 80% de aprovação.

Lamentavelmente, era apenas a aparência.

Havia uma quadrilha, organizada e chefiada por ele, agindo nas sombras para surrupiar as empresas públicas. O tumor maligno foi instalado e lentamente se infiltrou nos órgãos, transformando-se em metástase.

Dilma governou como uma destrambelhada, o que – ao lado da corrução organizada – acabou por levar o país à bancarrota e ao caos financeiro, político e social.

Apanhados em flagrante, a casa caiu, o financiador faliu e tudo o que haviam, em tese, feito em prol da sociedade perdeu-se no caminho. Perderam o respeito.

Por outro lado, o poder público, especialmente no patropi, tem se mostrado incapaz de enfrentar a violência, essa calamidade social. Pior que tudo isso, é constatar que a violência existe com a conivência de pessoas e grupos das polícias, representantes do Legislativo de todos os níveis e, inclusive, de autoridades do poder judiciário. A corrupção, uma das piores chagas brasileiras, está associada à violência, uma aumentando a outra, faces da mesma moeda. A lentidão da Justiça e a impunidade quase ensinam que “o crime compensa”.

O crime organizado atua na vacância do Estado, nas entranhas do poder público, e nas comunidades carentes de tudo. Age como fazem os guerrilheiros disfarçados, e conseguem estar em toda a parte e em lugar nenhum. Impossível derrotá-lo apenas com forças militares regulares. Há que se redesenhar o sistema!

Entendo que as causas da violência são associadas, em parte, a problemas sociais como miséria, fome, desemprego. Mas nem todos os tipos de criminalidade derivam das condições econômicas. Além disso, um Estado ineficiente e sem programas de políticas públicas de segurança, contribui para aumentar a sensação de injustiça e impunidade, que é, talvez, a principal causa da violência.

A violência se apresenta nas mais diversas configurações e pode ser caracterizada como violência contra a mulher, a criança, o idoso, violência sexual, política, violência psicológica, física, verbal, dentre outras.

Em um Estado democrático, a repressão controlada tem um papel crucial no controle da criminalidade. Porém, essa repressão controlada agora decretada no Rio de Janeiro deve ser apoiada e vigiada pela sociedade civil. Cá no meu canto, estou assuntando: quem está dando golpe em quem?

Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
Ponto de Vista

Recent Posts

COTAÇÕES DO DIA

DÓLAR COMERCIAL: R$ 6,0750 DÓLAR TURISMO: R$ 6,3070 EURO: R$ 6,2240 LIBRA: R$ 7,4040 PESO…

18 horas ago

Paulinho Freire (União) faz primeira troca no secretariado menos de 15 dias após posse na Prefeitura de Natal

Empossado no último dia 1º de janeiro como prefeito de Natal, Paulinho Freire (União Brasil)…

18 horas ago

Sete pessoas são presas em operação contra facção criminosa no RN

Sete pessoas foram presas nesta terça-feira (14) durante uma operação deflagrada pela Polícia Civil do…

19 horas ago

Mulher morre carbonizada durante incêndio dentro de casa em Mossoró

Uma mulher morreu carbonizada em um incêndio na tarde da segunda-feira (13), por volta das 15h, em Mossoró,…

19 horas ago

Fiscalização de Pix não afetará autônomos, esclarece Receita

O reforço na fiscalização do Pix não afetará a renda dos trabalhadores autônomos, esclareceu a…

19 horas ago

Meta responde AGU e governo discute ações sobre Facebook e Instagram

A gigante da tecnologia Meta – que controla as redes Facebook, Instagram e Whatsapp –…

19 horas ago

This website uses cookies.