FAXINA –
Não sei se para todos os mortais, mas para mim, o ano só se inicia ao se realizar uma boa faxina. Não falo apenas em vassouras, rodos, produtos de limpeza. Falo nas gavetas abarrotadas de coisas, sejam as da cômoda, sejam as da alma.
Ao finalizar a primeira semana do ano, chegando de uma segunda viagem em família, decidi que era hora. Abri o armário, muni-me de vassouras, sacos vazios e produtos de limpeza e me encaminhei para nosso micro escritório. O barulho de papeis sendo rasgados confundia-se com a música que saía de meu celular. Algumas vezes cantarolei junto aos cantores profissionais, em outros momentos me silenciei para aproveitar melhor o momento.
Como guardamos coisas! Como guardamos sentimentos. Sempre (realmente, sempre!), coloco dentro de livros e agendas fotos ou cartões recebidos. São pequenos mimos que espalho para mim mesma durante o ano, sabendo que no momento da “faxina pesada de início de ano” encontrarei aquela doce lembrança de alguém ou algum momento especial.
Desta forma, preciso ser cuidadosa com cada coisa que pretendo jogar fora, para manter os mimos sob meus cuidados.
Separo sacolas para doações e percebo quanta coisa acumulamos ao longo da vida. Sempre precisamos de mais canetas, mais cadernos, mais roupas, mais bolsas, mais sapatos, mais… mais tudo! E, ao olhar enxergando de verdade, muito pouco precisamos…
Comecei o ano. A faxina está pela metade. Isto soou como preguiça, mas não é. A faxina deve seguir a delicada natureza da alma. Enquanto limpo os cômodos de nosso lar, limpo também o coração, a alma, reorganizo as idéias, os sonhos, os planos.
Vejo aquilo que não me cabe mais e os lugares onde também não caibo e, desta forma, vou me pondo com o que deve ser meu e onde eu realmente devo estar. Sem pressa. Sem medo. Sendo só gratidão… Comecei 2022!
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora