Francisco de Paula Segundo
Na minha luta como empresário do interior do RN, sempre tenho buscado sobreviver com o pouco de que dispomos. Para isso, a criatividade tem sido a mola mestra do desenvolvimento.
Já falei que empresário não tem o direito sequer de chorar quando as adversidades nos batem à porta. Na fruticultura, que abracei como negócio desde a década de 80, as coisas aconteciam da mesma forma. Tínhamos o produto (melão) da melhor qualidade, produzíamos bastante, tínhamos os “clientes”, mas, sofríamos de inanição por sermos usados como boi de piranha pelos próprios importadores, que jogavam com os pequenos produtores para baixar o preço médio da fruta, atingindo em cheio os grandes meloeiros.
E tudo funcionava de forma rudimentar, uns querendo ver a morte do outro, além das muitas reclamações por parte dos agricultores por haver exigências demais pelo lado dos europeus compradores.
Nesse contexto, fui eleito presidente da associação que congregava todos os sofridos agricultores da região. E nessa briga generalizada, fiquei no meio desse fogo cruzado sem pena nem dó.
A primeira solução visualizada foi a valorização do setor e a organização como forma de proteger a classe. Nosso pensamento inicial foi revigorar a feira do setor, a Expofruit, que estava “dormente por falta de gás”.
Vimos na feira um momento de negócio ímpar, em que a intenção era atrair novos compradores para inverter a situação. Ao invés de sermos jogados feito molambo pelos poucos clientes que baixavam por aqui, investimos numa correta divulgação do setor. Pela amplitude da feira ocorreria o contrário: a intenção era alcançar diretamente aqueles que adquiriam os nossos frutos pelas mãos dos que mandavam na nossa produção, com isso criar robustez empresarial para a luta.
Pois não é que deu certo? A Expofruit deu moral ao setor e modificou a cara do produtor, que deixava de ser manobrado por europeus sabidos e passávamos a impor a nossa maneira privada de negociar.
Importante relatar que, no Brasil, o único setor que não vende frutas consignadas somos nós, as demais frutas são postas na Europa com preços que só o mercado pode determinar. Outro intento alcançado foi o de receber adiantamento em dinheiro para as frutas que iriam ser enviadas somente na safra, e que seriam descontadas durante o ano da produção, garantindo assim o custeio.
Não tenho a menor dúvida: o setor da fruticultura irrigada não teria condição de impor tantas regalias se não fosse a Expofruit. Foi através dela que houve imposição comercial para nos rebelarmos frente às grandes potências mundiais de comercialização de frutas que, pasmem, não diferem em nada do que acontece por aqui quando se trata de negócios entre pequenos e grandes produtores.
Em outra ponta, não poderia deixar de louvar os nossos produtores, que foram forjados à custa de muitas dificuldades e aprendizados que só a escola da vida poderia dar, e que fizeram deles uns verdadeiros desbravadores.
Francisco de Paula Segundo – Empresário, ex-secretário de Desenvolvimento do RN