FESTA DO LIVRO EM PORTUGAL –
O livro é celebrado por escritores europeus e do além-mar. O Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos foi festejado durante dez dias do último mês de outubro.
A vila de Óbidos, bem pertinho de Lisboa, com cerca de três mil habitantes, virou Cidade Literária, por decisão da Unesco, e passou a fazer parte da Rede das Cidades Criativas. A escalada, de certa forma, lembra a nossa Natal, que, com poucas casas, passou a ser cidade por ordem de rei, Felipe II de Espanha.
Óbidos, com exata preservação da urbe medieval, tem rico patrimônio material. Assim, são as ruas estreitas, as praças, os muros e o seu castelo, sede, hoje, de uma pousada admirada. A riqueza de sua história é dignificada. O meu amigo Marino Almeida diz que, antigamente, havia reis bons e maus. Os bons, como Dom Dinis, faziam muralhas para proteger toda a população. Casou-se aos 17 anos com a princesa aragonesa Isabel, com apenas 9 anos. Ela se transformou em mulher piedosa e cuidou da pobreza com carinho. À sua igreja acorrem muitos devotos para pagar promessas à rainha-santa.
O município abriga campos de golfe que atraem a presença de aficionados. A vila é realmente criativa. Realiza festivais variados, de chocolate a ópera. Recria feiras medievais com artesãos expondo seus produtos, encenando sabores e gostos da época e acontecimentos históricos.
O tema central deste Festival foi o reencontro com o “Outro”.
A vila chegou a albergar oito livrarias. No alto, uma capela foi transformada também em livraria, expondo uma seleção de livros que a enobrecem. Lá, ouvi a palestra de Mia Couto, o admirável escritor moçambicano. Diz-se que é necessário buscar perceber as luzes do outro para ser disponível ao outro. O escritor é otimista. Entende que a infelicidade dá muito trabalho. Por isso, ele se sente feliz por preguiça.
Em dezesseis sessões, sobretudo, a velha guarda, os intelectuais convidados fizeram reflexão sobre a temática proposta. A espanhola Amalia Bautista expôs: “Nas nossas vidas, há sempre um outro, real lembrado, imaginado, desejado”.
Já a escritora Helena Ales Pereira apoiou o seu pensamento na afirmação de Marcel Proust: “Somente através da arte conseguimos sair de nós mesmos e conhecer a visão do outro”.
Sabemos que a música supera a linguagem da literatura na aproximação de pessoas e povos. Por essa razão, o Folio apresentou nove concertos. E ainda uma afinada banda composta pelos meninos locais.
Muitos escritores brasileiros foram convidados, alguns talentosos fizeram bonito. Por meu lado, chamado a falar sobre poesia, ponderei que: O poeta busca a palavra inaugural, o seu Fiat Lux, o poema. Convoquei repentistas nordestinos para recitar. Pinto do Monteiro e Antônio Sobrinho foram aplaudidos, como também os poetas improvisadores Renato Caldas e Luiz Rabelo.
O Folio não esqueceu os vanguardistas. Uma sessão chamou-se “Poesia Vadia”.
O Livro continua em festa.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN