FHC EM MINÚSCULAS –

É lastimável ler nos noticiários a infeliz colocação de FHC, ex-presidente do Brasil, uma personalidade respeitada no mundo político, nacional e internacional, sobre a tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais, que traumatizou todo o país: “esse governo tem que entender que a preservação do meio ambiente não é zoeira de esquerda”, ou algo do gênero (Agências Reuters, 25.01.2019).

Lastimável e desrespeitoso.

Zoeira não é expressão cabível ao momento.

Há momento de se politizar os problemas brasileiros, que são muitos, e antigos, e momentos para se preservar a unidade nacional. Uma autoridade tem que se impor respeito. É muito fácil depreciar um fato tão grotesco, um momento nacional traumático, insinuando a culpa em um governo, não interessa quem seja o governante, e esquecer que as barragens da VALE são tão antigas quanto a história da própria empresa e que o problema perpassou diversos governos, inclusive o dele.

Longe de mim defender governos, mas é muito fácil colocar insinuações contra Jair Bolsonaro, ou Dilma Rouseff, no caso do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, também em Minas Gerais, há três anos; como se em seu governo tudo funcionasse conforme as normas, às mil maravilhas, como se em seu governo fosse diferente, como se ele fosse melhor, e esquecer que o processo de privatização da VALE, onde a concepção de lucro de instalou- nada contra o lucro- não tivesse se realizado em seu governo e esquecer, sobretudo, que estamos diante de uma tragédia ambiental, ou crime, e o mínimo que se espera dos homens públicos brasileiros é respeito e espírito público.

Brumadinho não tem culpa, muito menos o governo em questão, de personalidades como ele e outros, e seus partidos demagogos e vazios, suas vãs ideologias, foram rechaçados pela maioria da população brasileira no último pleito eleitoral. Não sei se fhc foi informado que cerca de trezentas vítimas ilustram a tragédia nacional de Brumadinho, mais uma, e o sentimento da sociedade é que tudo ficará impune, como aconteceu em Mariana, como aconteceria no seu governo e que o momento não é de se fazer política, a baixa política, mas de mostrar-se autoridade e, enveredando esforços, ajudar no que for possível ainda ser feito. Mas, talvez, seria pedir muito a uma autoridade brasileira que se notabilizou pelo nhem, nhem, nhem.

Aliás, a tragédia de Brumadinho mostra o Brasil como estamos, literalmente na lama. E isso deve doer na consciência daqueles que passaram pelo poder e nada fizeram, mesmo achando que fizeram, mesmo se achando o máximo. Infelizmente, o “rio já não é doce, mas a VALE continua amarga” e fhc, queira ou não aceitar, faz parte desse amargor, desse gosto de zinabre, desse gosto de azinhavre. O Brasil não esquece. Ainda existe alguma memória na dignidade brasileira. Embora se diga agnóstico, não custa nada lembrar ao ex-presidente a leitura do Livro do Eclesiastes e pedir-lhe para dizer algo que tenha alguma utilidade, ou humanidade, ou simplesmente se calar.

 

 

Adauto José de Carvalho Filho – AFRFB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta.
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