Em depoimento à Polícia Federal acontecido ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso negou ter usado qualquer artifício legal para enviar dinheiro a Tomás Dutra, que reconheceu como filho com a jornalista Mirian Dutra e mora no exterior. Em fevereiro, Mirian disse que recebeu por anos dinheiro de FHC por meio de um contrato fictício com a Brasif Exportação e Importação. Durante o governo de Fernando Henrique (1995-2002), a empresa explorou os free shops (lojas com isenção de impostos) de aeroportos brasileiros. Em depoimento à PF no início de abril, porém, ela não confirmou a acusação.
O advogado do ex-presidente, Sérgio Bermudes, afirmou que o ex-presidente nunca remeteu dinheiro a Mirian, mas sim ao Tomás, a quem sempre tratou como filho. “Ele enviava dinheiro de forma legal e declarada. Há muito tempo, Fernando Henrique tem dinheiro no exterior, devidamente declarado, e não precisaria de meios escusos para encaminhar valores a Tomás”, disse o advogado.
O depoimento de FHC à Polícia Federal, em São Paulo, durou duas horas e dez minutos e tratou de dois inquéritos. Um deles investiga a suposta remessa de dinheiro para Mirian, com quem ele manteve um relacionamento extraconjugal por seis anos durante as décadas de 1980 e 1990. Desde 1992, a jornalista mora na Europa. A outra investigação aborda a suposta propriedade de imóveis no exterior, que não teriam sido declarados por Fernando Henrique à Receita Federal.
Tomás nasceu em 1991 e teve sua paternidade atribuída ao ex-presidente. Dois exames de DNA realizados em 2011, porém, indicaram que ele não é filho de Fernando Henrique. Apesar disso, o ex-presidente afirma que sempre o tratou como filho e mensalmente enviava dinheiro para a manutenção do jovem na Europa. Segundo Bermudes, Fernando Henrique também afirmou nesta sexta à PF que nunca teve nenhum imóvel fora do Brasil. Por dar aulas e palestras em universidades francesas, em 2003 ele permaneceu dois meses em Paris hospedado em um apartamento que pertence a Maria Sodré, sogra do amigo e ex-sócio de Fernando Henrique numa fazenda em Minas Gerais, Jovelino Mineiro.