FICUS BENJAMINA –

Ao entrar no estacionamento de uma agência da Caixa Econômica Federal, em Natal, deparei-me com três espécimes, ainda pequenos, de uma das árvores mais populares no cotidiano do natalense nas décadas de 50, 60 e 70: o ficus benjamina.

Encontravam-se ficus plantados nos canteiros centrais das avenidas Rio Branco e Deodoro da Fonseca, na Cidade Alta, e em outras artérias e praças da cidade. Sendo um vegetal possuidor de estrutura física vigorosa gerador de pequenas folhas verdes brilhantes, o ficus oferecia a transeuntes e motoristas da pequena frota de veículos em circulação na capital, ampla e convidativa sombra.

Como amante do sol, a árvore, nas condições ideais de solo e temperatura, pode atingir 30 metros de altura, formando uma copa frondosa. Sua existência é perene se houver alimento para as raízes robustas e insaciáveis.

Pois bem! Arranquei algumas folhas daquela árvore, minha velha conhecida, e fiquei matutando a razão delas terem sido banidas dos bairros de Natal. Comentando o achado com amigos e feitas algumas consultas, imaginei haver descoberto a razão da eliminação do ficus benjamina da cidade.

A casta vegetal aparentemente inofensiva é, na verdade, um tormento para as comunidades. Suas raízes crescem e se alastram sem temer qualquer obstáculo, penetrando cada vez mais fundo no solo em permanente procura de água e nutrientes.

À medida que oferece uma sombra generosa e agradável, tronco, galhos e copa aumentam rapidamente. A grama dos jardins à sua volta morre por falta de luz, enquanto outras plantas definham. A competição da maioria das árvores com as raízes do ficus é desigual, haja vista sua gana implacável de crescer mais e mais.

Após algum tempo de vida a árvore começa a mostrar suas garras rachando calçadas e levantando pavimentações de ruas. Ao encontrar muros ou paredes pela frente não hesita em destruí-los na frenética busca por alimento e água.

Ao atingir o estágio adulto, a árvore já cobrou a contrapartida em troca da oferta de sombra e brisa fresca ao cidadão, sem que tenha apresentado ainda uma outra faceta desagradável do seu ciclo natural de vida: ser hospedeira do lacerdinha.

Abramos um parêntese para apresentar o minúsculo inseto. Trata-se do tripe (thysanoptera) galhador de ficus, causador de deformidade nas folhas da árvore e indutor da queda prematura das mesmas, podendo levá-la à morte.

No Brasil essa infestação, nas vezes que apareceu, foi provocada por tripes da família dos ginaykothrips uzeli que, na condição de praga, acarretou grandes devastações nas plantações de ficus. Os insetos adultos são pretos e povoam a árvore por inteiro. Mas o pior é que, sem qualquer aviso ou consulta, os diminutos piolhos penetram nos olhos dos pedestres propiciando-lhes enorme irritação.

Nos anos 60 e 70, no Rio de Janeiro, surgiu uma infestação dessa praga nos ficus da cidade. Logo o carioca apelidou o inseto de lacerdinha, numa alusão jocosa a Carlos Lacerda, político que ganhou notoriedade como adversário implacável de Getúlio Vargas.

Quando adolescente eu tive o desprazer de “hospedar” um lacerdinha num olho e sentir o desconforto de não saber como desalojá-lo. O auxílio de minha bendita mãe foi providencial para pinçar o inseto livrando-me do incômodo.

Moral da história: foi melhor nos privarmos da agradável sombra do ficus a ter de conviver com o embaraço de sua presença entre nós.

Antiga sede do Palácio do Governo, na Praça Sete de Setembro, em Natal, com os ficus benjamina adornando sua fachada.

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Uma resposta

  1. Lembro-me bem dos lacerdinhas. Eles ream um terror para as pessoas que passavam por perto dessas árvores. Diziam, na época, que eles tinham preferência por atacar as pessoas q vestiam roupas de cor amarela.

    Obrigado pela crônica. Me fez voltar no tempo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *