FIGUEIREDO, O PRESIDENTE –

O 30º Presidente do Brasil, João Batista de Oliveira Figueiredo, foi o último chefe militar da nação durante o regime de exceção. Governou o país por seis anos, de 1979 a 1985. Tornara-se, até então, o presidente a permanecer por mais tempo no cargo desde Getúlio Vargas.

Carioca e, talvez, influenciado pela condição de filho de militar graduado do Exército seguiu a carreira do pai e chegou, ele também, ao generalato. O convívio na caserna, os inúmeros cargos de comando e o temperamento áspero deram-lhe fama de durão, turrão e grosseiro – este último adereço comportamental, devido a sua exagerada franqueza.

O seu mandato ficou marcado na lembrança do brasileiro pelas declarações bombásticas, destemidas e, muitas vezes, inconsequentes. Eleito pela Arena disputando contra chapa do MDB composta pelo general Euler Bentes Monteiro e Paulo Brossard, em pleito indireto, já no discurso de posse enfatizou: “Eu farei deste país uma democracia!”.

A imprensa nacional se fartou de explorar suas declarações polêmicas enquanto cumpria o mandato. Todas elas reproduzidas sem censura, diga-se de passagem. Sobre a realidade econômica do país, falou: “Sei que o Brasil é um país essencialmente agrícola. Viram? Não sou tão ignorante quanto dizem!”. Em resposta a estudantes que o insultavam em visita a Florianópolis, tascou: “Minha mãe não está em pauta!”.

Acerca das peculiaridades do Rio Grande do Sul, comentou: “Durante muito tempo o gaúcho foi gigolô de vaca”. Em conversa com um garoto que lhe perguntou o que faria se ganhasse um salário mínimo, saiu-se com esta: “A única solução é dar um tiro no coco!”. Devido à impopularidade em razão da disparada da inflação no país, afirmou: “Eu não odeio o povo brasileiro. Ele é que me odeia”.

Durante o governo Figueiredo a crise econômica que assolou o mundo respingou no Brasil. Para piorar as coisas, ocorreram atentados terroristas atribuídos a setores da direita e a militares tidos de linha dura. A inflação ultrapassou os 200% e a dívida externa subiu de 50 para 100 bilhões de dólares.

Por outro lado é indiscutível que graças à teimosia e a firme disposição do presidente, foram forjadas ações corajosas fundamentais para o cumprimento de seu objetivo maior na presidência. E ele as bancou estabelecendo a anistia ampla, geral e irrestrita para políticos cassados com base em atos institucionais; abolindo o bipartidarismo; e, acatando o crescimento da campanha pelas “Diretas Já”.

 Mesmo constrangido ante o falecimento prematuro de Tancredo Neves, já presidente eleito, concordou com a posse de seu vice, José Sarney, embora sem dispor-se a colocar-lhe a faixa presidencial.

Sua declaração, no término do mandato, dada em entrevista ao jornalista Alexandre Garcia para a extinta TV Manchete, ficou célebre: “Bom, o povo, o povão que poderá me escutar, será talvez os 70% de brasileiros que estão apoiando o Tancredo. Então desejo que eles tenham razão, que o doutor Tancredo consiga fazer um bom governo para eles. E que me esqueçam”.

Por não saber controlar a língua fomentou a antipatia popular. Entretanto, além da falta de compostura verbal nunca se ouviu falar de algo que desabonasse sua conduta à frente do cargo. Saiu do Palácio do Planalto levando consigo ressentimentos e deixando exemplos de seriedade administrativa.

Faleceu aos 81 anos, em 1999. Foi detestado e incompreendido, mas, não mudou o rumo do que se propôs deixar de herança para o Brasil: a redemocratização.

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

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