FILMES DE CABECEIRA –
Tenho um amigo cinéfilo que, dos filmes da sua preferência, alega ter visto um em especial, protagonizado pelo seu ator preferido, mais ou menos oitenta vezes. Eu o conheço suficientemente bem para acreditar na façanha, lembrando que o filme mais assistido por mim foi merecedor de pouco mais de vinte audições. Tradicionalmente, pelos filmes que mais nos agradaram temos esse carinho, essa predileção que nos leva a desejar vê-los e revê-los sempre que surja uma oportunidade. Alguns atualmente são mais procurados e revistos em função da facilidade de acesso através dos DVDs, canais de televisão e as variadas plataformas existentes para esse fim. Nas salas de cinema, é praticamente impossível.
O assunto nos leva a compreender que, além dos livros, das obras que sempre mereceram a nossa releitura ou as nossas consultas ocasionais, existem os filmes que podemos intitular de cabeceira, aqueles que são eternamente admirados e, por isso, objeto de incontáveis revisitas. Como provocação e até como incentivo, tomo a liberdade de relacionar alguns filmes que marcaram a minha vida de assíduo frequentador das salas, e hoje de habitual utilizador dos meios domésticos disponíveis para se apreciar o cinema.
Ocupam cadeira cativa nos meus acervos Luzes da Cidade, O Garoto, Tempos Modernos, O Circo, O Grande Ditador, Os Ociosos, do genial Charles Chaplin, de quem também gosto de ver Luzes da Ribalta e Monsieur Verdoux; Casablanca, de Michael Curtiz; Cantando na Chuva, de Gene Kelly e Stanley Donen; Relíquia Macabra, de Orson Welles; os westerns Os Brutos Também Amam, de George Stevens, Johnny Guitar, de Nicholas Ray, Matar ou Morrer, Fred Zinnemann, O Homem que Matou o Facínora, John Ford. Esses são clássicos em uma relação que inclui A Malvada, de Joseph Mankiewicz, Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder, Tarde Demais para Esquecer, de Leo McCarey, e um dos preferidos da minha mãe, Suplício de uma Saudade, Henry King, e Psicose e Os Pássaros, ambos de Alfred Hitchcock.
Porém, nem só de clássicos eternos e consagrados está repleta minha “cabeceira” de cinéfilo. Nela, há espaço para o belo Cinema Paradiso, de Guiseppe Tornatore, e o delicado, repousante e cult entre amantes da gastronomia, A Festa de Babette, de Gabriel Axel. Não tenho o menor pudor em eleger o megassucesso Titanic como uma das minhas diversões dos últimos 20 anos e, sempre que posso, vejo O Diabo Veste Prada, com a perfeita Meryl Streep dirigida por David Frankel. Procuro manter sempre à vista Kill Bill, Bastardos Inglórios e Django Livre, de Quentin Tarantino e O Livro de Eli, de The Hugh Brothers. Não perco oportunidade para rever algum dos 12 filmes do Tarzan Johnny Weissmuller, de quem tenho a coleção completa, assim como quase todos de Laurel & Hardy (O Gordo e O Magro). Tenho visto Dance Comigo e Vamos Dançar? com Fred Astaire e Ginger Rogers, Deu a Louca no Mundo, comédia frenética dirigida por Stanley Kramer, e musicais de orquestras, bandas e cantores consagrados, eruditos ou populares. Vez por outra, vejo filmes das Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970, as primeiras vencidas pelo Brasil, quando ainda valia a pena assistir a um jogo de futebol.
Minhas preferências, portanto, são variadas e ecléticas, porém, já deu para notar que a maioria dos filmes citados representam escapismo e mera diversão. É justamente por isso que estão nas minhas prateleiras e na minha cabeceira; a sua função é amenizar as durezas e tristezas cotidianas e me transportar para a realidade de tantas situações criadas, fictícias, quando posso gozar emoções e, sem temores, vergonhas ou inibições, mergulhar na paz e no descompromisso da fantasia.
Alberto da Hora – Escritor, músico, cantor e regente de corais