FLAMENGO E PICOLÉ –
Dia de final da Libertadores. Combinei almoçar fora com meus pais e sei que eles – ele, na verdade – gostam de madrugar nos restaurantes. Como os meninos decidiram não ir, decidi comprar alguma comida congelada e deixar em casa. Supermercado lotado, cheio de flamenguistas escolhendo suas cervejas e carnes para churrasco e eu correndo pelos corredores certos para não perder tempo. Ainda precisaria chegar em casa, organizar as compras, tomar banho e me arrumar, sem deixar meus pais me esperando.
Sou uma exímia compradora, mas a velocidade que me impus me fez falhar em dois ou três itens. Tudo bem!, pensei, outro dia volto e finalizo as compras.
Encontrei um ex-aluno e bati um papo rápido com ele. Depois, me encaminhei para o carro quando…
Quando vejo uma senhora sozinha com a idade aproximada de meus pais tomando um picolé e sorrindo. Isso me chamou a atenção. Desacelerei. Era nítido como ela estava vagando em outros mundos, pensamento distante enquanto o picolé ia diminuindo de tamanho. Ao final, ela olhou os dois lados do palito, sorriu mais uma vez e o colocou dentro da embalagem. Lembrei das promoções da Kibon de quando eu era criança. Um palito de picolé premiado. Nunca encontrei um. Só chegavam os TENTE OUTRA VEZ, assim como se repete até hoje nas raspadinhas promocionais que ainda recebo.
Mesmo assim, eu amava a possibilidade de ser agraciada com um prêmio. Isso já era um prêmio! A cabeça voa e lembrei que uma prima no grupo da família disse: por que só gostamos de coisas caras?
Bons restaurantes, boas roupas, viagens…
Aí, enquanto colocava as compras na mala do carro já sem tanta pressa e com o pensamento distante, eu refletia no que me faz feliz: vitória do Flamengo (ela veio!), ganhar chocolate, tomar café com amigos, raspar a panela de brigadeiro, ouvir boa música, olhar fotos antigas, reencontrar pessoas especiais, ouvir “eu te amo”, falar “eu te amo”, receber mensagens dizendo que sentem minha falta, escutar pipoca estourando, ler um bom livro, fazer lettering, assistir séries, escutar a risada dos filhos, fazer cafuné na Pretinha, conversar com quem me é valioso, escrever…
É! A gente pode até gostar de coisas caras, mas não são elas que nos fazem felizes de verdade!
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Escritora