FOI BOM –

O ano de1968 ficou conhecido e marcado como o “ano que não terminou”. Houve a marcante assinatura do Ato Institucional número 5 pelo Presidente Costa e Silva; o mundo enfrentava a disputa da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética; ardia a Guerra do Vietnã; enfim, um ano nebuloso e tenebroso.

Cursava o 5º ano de Medicina. Um ano antes, tinha encerrado a minha rápida passagem como jogador profissional de futebol. Assumia o casamento e passava a ser responsável por um lar e uma futura família, apesar de jovem e inexperiente.

O curso tomava praticamente todo o meu dia; graças ao meu irmão Airton de Castro, Secretário da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), consegui o meu primeiro emprego. Fui ocupar a função de Assistente de Secretaria, com expediente noturno. O dinheiro era pouco, mas chegava em bom momento e muito me ajudava.

Sabendo que o Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (INDA), cujo Presidente era o Médico e Político mossoroense Dix-Huit Rosado, estava iniciando a colonização de dois núcleos agrícolas no Estado, um em Pium e outra em Maxaranguape, logo procurei saber da necessidade de estagiários (remunerados) em medicina, uma vez que os colonizadores iriam contar com um sólido auxílio logístico, incluindo assistência médica.

Com apoio de amigos e conhecidos consegui um contrato de prestador de serviço durante o expediente da tarde. A sede da Instituição era localizada na esquina da Rua Potengi com a Rodrigues Alves; casarão antigo pertencente aos Ferreira de Souza, que foi adquirido por um bom dinheiro no Governo do seridoense Dinarte Mariz.

Na época o seu Delegado era o político e agropecuarista Valdemar Veras, homem de confiança e amigo pessoal do Governador Dinarte.

Iniciei o meu novo ofício como Acompanhante-Assistente Médico no Núcleo Colonial do município de Maxaranguape – denominado de Dom Marcolino Dantas.

O trabalho era executado com visitas clínicas semanais, onde atendíamos os colonos e seus familiares, sempre com o acompanhamento e a coordenação de um médico clínico titular: o Dr. Olavo Montenegro, o primeiro anestesiologista do Estado na época na função de clínico geral. Foi em uma dessas visitas que vi e identifiquei pela primeira vez uma criança com Síndrome de Down, graças aos bons e eficientes ensinamentos na Cadeira de Pediatria da UFRN com o eminente Professor Heriberto Bezerra (1925-2013).

Na Instituição conheci grandes amigos engenheiros agrônomos: Julio Pires da Nóbrega (meu Chefe), figura boníssima, craque de bola em Mossoró (dizem); Almir, grande amigo, americano de quatro costados. O odontólogo Armênio, que se deliciava com uma cestinha de verduras e legumes fresquinhos doados pelos colonos; a figura simpática e amiga do carioca Gerson, eficiente Coordenador do Núcleo (ainda hoje batemos um bom papo irrigado com a sua predileta – caninha; Silvan, o ex-Prefeito de Macaíba que exercia a função de auxiliar de Portaria e outros que me fogem da  memória.

Permaneci no INDA até o final do ano de 1969, quando conclui o meu Curso e viajei para fazer a minha Residência Médica no Hospital Professor Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia ( UFBA).

Foi um bom e proveitoso momento de aprendizado na minha vida: criei e solidifiquei aprazíveis amizades. Ganhei conhecimentos médicos que até hoje são lembrados como lições de sabedoria.

Valeu  a pena. Foi bom.

 

 

 

Berilo de Castro – Médico e Escritor,  [email protected]

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