Ex-cachorro de rua, o vira-lata caramelo Matuê faz a alegria de frentistas, vizinhos e clientes de um posto de gasolina no bairro Jardim Novo Campos Elíseos, em Campinas (SP). Adotado há dois anos, o animal ganhou espaço no estabelecimento, unforme de frentista e um perfil nas redes sociais, que divulga cães abandonados que chegam ao posto para que possam ser adotados.

Responsável pelo “frentiscão” Matuê, e pelo trabalho de divulgação, o gerente Giovanni Fernandes, de 24 anos, conta que gosta muito de cachorros e seu pai, que é um dos sócios na rede onde trabalha, sempre teve o costume de dar água e comida para animais de rua, além de um canto para descansar. Com isso, alguns acabavam morando nos postos.

“O Matuê chegou ao posto todo tímido e cansado, aí os meninos foram na conveniência e compraram um enroladinho de salsicha pra ele e eles falaram que o Matuê não foi mais embora, ficou na bota deles o dia inteiro”, conta Giovanni.

Após fecharem o posto, o animal começou a seguir um dos funcionários que acabou ficando com dó e o levou para casa. No outro dia, perguntou ao gerente se poderia manter o cachorro no posto, e Giovanni não hesitou em aceitar. Assim que foi adotado, Matuê ganhou coleira e um uniforme de frentista.

Divulgação de cachorros abandonados

Assim que o novo integrante chegou, Fernandes pensou em criar um perfil no Instagram para ajudar na adoção dos cães abandonados que apareciam frequentemente ao posto do Campos Elísios e também em outros postos da rede. Para isso isso, ele iria mostrar a rotina dos “cachorros frentistas” e tentar “criar engajamento e uma comunidade de pessoas que gostam de cachorro”.

“Eu pensei que se eu conseguir fazer o Instagram ficar grande com bastante gente vendo os stories, os posts, eu posso pegar todo o cachorro abandonado que aparecer, cuidar dele por um tempo, postar vídeo colocando roupinhas, fazendo umas piadinhas. Isso ia atiçar o interesse da galera em adotar, então o Instagram do Matuê surgiu por causa disso.”

Atualmente, o perfil conta com 76,7 mil seguidores e o trabalho do projeto já rendeu quatro cachorros adotados em 2022. Além disso, por meio da conta, Giovanni fala que foi possível divulgar animais que estavam perdidos e puderam reencontrar suas famílias.

Segundo o frentista e trocador de óleo, Edson Candido, a cachorra Jojô apareceu e eles fizeram uma campanha para procurar o dono dela, que foi localizado e a levou embora. Depois de três ou quatro dias, ela voltou para o posto.

“Eu levei ela uma noite pra ficar com as minhas filhas e aí pronto, já era, ficou em casa direto e não voltou mais. Nós adotamos ela”.

Luciana Rodrigues tem um restaurante próximo ao posto e, ao ver o cachorro Black no Instagram, se interessou e adotou, mesmo já tendo outro em casa.

Para ela, o projeto inspira outras pessoas. “Muitos tomaram como exemplo e estão fazendo o bem, porque tinha muito cachorrinho perdido na rua. E ele trata muito bem os cachorros, você vê que é carinho e amor mesmo”.

Acidente

Em março do ano passado, segundo Fernandes, Matuê acordou por volta das 5h50 e saiu do posto para fazer xixi do outro lado da rua, como era de costume. Ao retornar, o animal acabou atropelado por um carro em alta velocidade, que estava com o farol baixo.

“O Matuê tava atravessando a rua pra voltar e o cara pegou ele, atropelou e não percebeu que tinha atropelado um cachorro. Ele só foi parar o carro uns 200 ou 300 metros depois do lugar onde aconteceu a batida e não ia socorrer o cachorro, ele ia largar pra trás”, conta Fernandes.

Segundo o tutor, quem prestou socorro foi um cliente que conhecia o cãozinho e o carregou ensanguentado até o posto de combustível. Na hora da batida, os frentistas estavam abrindo o estabelecimento e não viram o que tinha acontecido.

Assim que soube, Giovanni correu para o posto e levou Matuê ao veterinário. Ele teve uma hemorragia interna e queimaduras nas costas e na cabeça. Com meses de tratamento, e momentos de dor e coceira, as queimaduras foram cicatrizando.

Hoje, o tutor conta que ele não sente mais dor no local e continua brincalhão como antes.

Rotina de um ‘frentiscão’

Aos oito anos de idade, Matuê fica solto no posto durante o dia, sai para passear sozinho pelo bairro e fica fechado em uma canil feito apenas para dormir. Junto ao companheiro vira-lata “Poze do Rodo”, de dois anos, ele brinca pelo posto e interage com funcionários, clientes e vizinhos do local sem perder a liberdade que tinha antes de ser adotado.

Eu acompanho eles desde o começo, desde que o Instagram tinha uns 8 mil seguidores. Quando você tá voltando do mercado ou da padaria, você vê eles dando a voltinha deles. Já até entraram no meu carro uma vez, mas hoje eles estão fazendo vista grossa, brinca a cliente Ana Flávia Prado.

Giovanni conta que o cachorro Poze apareceu em uma unidade de outro bairro e foi levado ao posto dos Campos Elíseos, pois já moravam outras duas cachorras lá. Ele tentou fazer com que o cão fosse adotado mas, meses depois, se apegou ao animal e deu uma coleira e unifome de “frentiscão”, expressão que utiliza para chamar os “cachorros frentistas”

“Eles distraem muito a gente, porque eles estão sempre fazendo alguma besteira. Parecem duas crianças e aí você tá sempre rindo”, comenta.

Para ele, divulgar os animais é também uma forma de mostrar a responsabilidade dos donos. “Comércios podem ajudar e todo mundo tem que ter responsabilidade pelos animais, não é abandonando e jogando um cachorro na rua que a gente vai resolver esse problema. Por mais que a gente não entenda o que eles falam, a gente entende o que eles sentem”, completa.

 

 

 

 

Fonte: G1

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