Jean Paul Prates
A última década tem sido terrível para a indústria dos noticiários no Brasil e no mundo.
Jornais impressos vem sendo fechados, normalmente com a demissão de seus mais experientes (e caros) jornalistas. Tivemos casos emblemáticos no Brasil como o do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil, vítimas de desastres administrativos e jurídicos além de problemas logísticos. Ultimamente, demissões em massa noEstado de S.Paulo, Folha e O Globo completam um quadro relativamente sombrio. No RN, a perda do Diário de Natal não se fez compensar pelo surgimento de novos jornais, alguns deles já desistentes, como o Correio da Tarde e o Jornal de Hoje – que já anunciou a extinção de sua versão impressa.
A realidade é que o fenômeno das redes sociais, a demanda aparente por notícias e artigos mais concisos e acessíveis, os novos mecanismos de áudio, video e web bem como as novas tecnologias de logística de distribuição de notícias (aplicativos, tablets, sistemas corporativos etc.) nem mesmo a prática de cobrar pelo acesso digital, ainda não foram totalmente assimilados, devidamente priorizados e transformados em faturamento compensatório às perdas de anunciantes e assinaturas.
A prova estatística disso está nos levantamentos anuais realizados pela Associação Norte-Americana de Jornais, que congrega o maior mercado editorial do mundo. Os registros ali são de perdas de mais de 3% ao ano em faturamento, sistematicamente a partir de 2007. Mesmo considerando as seções e mecanismos digitais, o panorama não é alentador para os grandes jornais. O faturamento da mídia digital cresceu por um tempo mas caiu, e voltou ao números de 2007! Totalizando impresso + digital, o faturamento dos membros da associação caiu de 50 bilhões de dólares em 2007 para menos da metade: 21 bilhões em 2014.
As pesquisas comprovam que o anúncio de jornal, apesar do preço desproporcional ao seu alcance atual, ainda possui maior efetividade específica por estar associado aos conceitos de seriedade e solidez. No entanto, é fato que seu direcionamento está associado às gerações que decidem hoje, mas que em breve sairão do mercado, seja por aposentadoria, seja por substituição natural.
Está claro que as grandes publicações precisam constantemente revisitar e aprimorar o papel das novas tecnologias em seu dia-a-dia e no seu futuro para conseguir alvejar e conquistar principalmente as novas gerações.Análises lugar-comum como as de que o público não se interessa mais por matérias e entrevistas longas, investigativas ou analíticas, por exemplo, são duvidosas pois iniciativas bem sucedidas como a Revista Piauí e outras mundo afora provam o contrário. A compra do Washington Post pela Amazon também evidenciou um exemplo de possível união entre negócios cujo carro-chefe ainda são os impressos, mas que juntos podem desenvolver novos caminhos.
Enfim, o fato é que os tempos mudaram muito e os empreendimentos de mídia que não souberem mudar seus métodos vão fechar irremediavelmente e demitir grandes profissionais. Não adianta mais querer viver de verbas públicas, por exemplo, através de atitudes bajulatórias ou ataques que levam à chantagem – as redes sociais imediatamente se encarregam de desmascarar tais práticas tradicionais. Isso vale para blogueiros e “jornalistas de ocasião” também. Não adianta também insistir teimosamente na tese de que a grife e autoria da notícia são suficientes para não se alterar padrões antiquados e desintegrados do jornalismo impresso.
Alta flexibilidade e grande capacidade (intelectual, tecnológica e financeira) para experimentar novos métodos parecem ser os fatores decisivos para a sobrevivência futura das grandes marcas do tradicional jornalismo impresso.
Jean Paul Prates – Advogado, Consultor de Energia e presidente do CERNE