GALERIA DE IMAGENS –
DUAS ESCOLAS
Concluído o período escolar no Grupo João Tibúrcio, no Alecrim, fui matriculado no Grupo Escolar Isabel Gondim, nas Rocas, palco de aventuras estudantis e celeiro dos melhores amigos da juventude. Nas mesmas dependências funcionava, no turno da noite, a Escola Técnica de Comércio Alberto Maranhão, com o curso Ginasial e o chamado Científico. No ano de 1967, a nossa turma concluiu os estudos, recebendo o título de Técnicos em Contabilidade, em pomposa e formal solenidade, no Teatro Alberto Maranhão.
As duas escolas eram orientadas por um baluarte da educação, o professor Acrísio Freire. Ele, além de dirigir o Grupo Escolar, era também diretor da Escola de Comércio. Junto com o professor Acrísio, compartilhavam a liderança o advogado Dante de Mello Lima e a secretária, dona Teodolina Cavalcante. Através deles, conhecemos uma educação disciplinadora, judiciosa e, até, paternal.
LEITURA E DIVERSÃO
Na sua sempre lembrada e celebrada gestão, o prefeito Djalma Maranhão fez construir, como em outros bairros populares, um complexo de uso comunitário, que incluía biblioteca e uma quadra de esportes. Nas Rocas, ficava próximo ao Canto do Mangue.
Era bastante frequentada a biblioteca, um sólido barracão de madeira, fixado em uma base de cimento, com prateleiras simples, porém repletas de livros e outras publicações, disputados pela juventude leitora. Ali, fiz muitos amigos, incluindo dona Nair, a dedicada e atenciosa encarregada.
Na quadra, por muitos anos, prosperou um animado campeonato de futebol de salão, com históricas rivalidades e a cumplicidade de um público fiel. Durante as rodadas, sempre bem frequentadas, nasceram muitos namoros, e até casamentos. Grandes e duradouras amizades, também.
Houve uma vez que eu, disposto a jogar, fui escalado para uma partida em que seria o goleiro. Foi a primeira e única experiência na posição. Por conta da minha péssima atuação, o nosso time – o Renner – perdeu de nove a um. A equipe agradeceu a minha desistência.
O MESTRE PADEIRO
Na padaria de seu Manoel, onde trabalhei na adolescência, o padeiro era Mestre Peba, apelido que era uma referência ao seu andar bambo e arrastado. Nesse tempo não havia o maquinário que se vê hoje nas padarias modernas e a preparação das massas era realizada em máquinas toscas e rudimentares, que necessitavam da ação direta das mãos dos padeiros. E não havia muita preocupação com a higiene. O mestre, morador da iniciante Brasília Teimosa, era portador da síndrome que acometeu a maioria dos seus primeiros ocupantes; sofria com a praga do bicho-de-pé, que o impossibilitava de usar sapatos e fazia o homem sofrer até quando calçava as chinelas. Nos momentos de folga era comum vê-lo coçando ou tentando extrair de maneira ávida e precária as excrescências que invadiam os dedos dos seus pés. Todos o conheciam e sabiam dessas particularidades, porém ninguém – pelo que eu saiba – se preocupava em ter que consumir o produto que resultava do trabalho de tão suspeitas mãos.
COLEGA
Colega era naturalista. Que outro nome podemos dar a uma pessoa que recebe os outros em casa, totalmente despido? Cobria as partes com um violão, é verdade, mas não vestia outra coisa, além do instrumento. A mulher, também descontraída, pelo menos usava sutiã e calcinha.
Não aparentavam qualquer incômodo quando eu, por exemplo, entrava em sua casa para depositar a água que colhia no chafariz, duas vezes por semana, e lhes fornecia transportada nos prosaicos e populares “galões.”
Certo dia, foi flagrado na tarefa de espionar as mocinhas que tomavam banho nos banheiros dos quintais vizinhos. O escândalo não o abalou:
– A culpa é delas. E eu não fui na casa de ninguém para ver!
Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais