GALINHOS, UM PARAÍSO POTIGUAR –
Eu conheci a praia de Pipa ainda intocada, no município de Tibau do Sul (RN), quando da pavimentação da RN 003, rodovia estadual de acesso ao badalado ponto do litoral nordestino brasileiro. De idêntica forma fui desbravar as praias do município de São Miguel do Gostoso, quando da implantação do pórtico identificador do marco zero da BR 101 – projeto de Oscar Niemeyer -, em Touros (RN).
Tais destinos não me deram motivação de visitá-los, novamente, porquanto a exploração turística haver desvirtuado a rusticidade que me deslumbrou nas vezes que lá estive durante a minha jornada como engenheiro rodoviário. Não imaginei tornar a ser tocado por aquele fascínio de antes até me convencerem conhecer Galinhos.
Pois bem, Galinhos é um dos 167 municípios do Rio Grande do Norte, localizado no litoral Norte do estado, rodeado por dunas, salinas, manguezais, praias e um rio, o Arataú. Possui 342,2 km² de área territorial e pouco mais de 2.900 habitantes – segundo o último Censo -, o que resulta numa densidade demográfica de 8,4 hab/km².
A maneira mais ágil e segura de chegar à península onde está a sede do município é por meio de embarcações postadas na localidade Pratagil distante 25 km da BR 406, no sentido Macau. Daí em diante é um panorama de beleza pura distribuída por recantos naturais onde a mão devastadora do homem ainda não conseguiu poluir.
A totalidade da área do município integra a região do Bioma Marinho Costeiro Caatinga que abrange a maior parte do Nordeste brasileiro. As características da flora e fauna marinhas estão bem preservadas, sob a vigilância permanente e rigorosa de associações criadas e integradas por galinhenses.
Sente-se o cheiro puro dos manguezais sem o odor putrefato que emana da mesma vegetação em grandes centros urbanos. Vê-se de perto a enorme variedade de crustáceos, gaivotas, garças, gaviões, urubus que habitam o espaço de ar puro e águas límpidas. Verdadeiros bancos de ostras permeiam o percurso sendo possível o acesso a eles na maré baixa, quando quase afloram na superfície.
E não é somente isso. Para o deleite do amante de frutos do mar existe uma variedade enorme de peixes de primeira linhagem como corvina, robalo, pescada e galo do alto – origem do nome do município – além dos crustáceos. É possível acompanhar a olho nu, o passeio de cavalos marinhos e de outros espécimes da fauna marinha regional ao longo dos manguezais.
Esse passeio terá uma conotação especial se o cidadão tiver a sorte de fazê-lo na embarcação de Junior Tubarão tendo o próprio como guia turístico. Trata-se de um galinhense autodidata e bastante comunicativo, segundo ele, descendente da tribo indígena potiguaras que habitou a região em priscas eras.
Além de conhecer a fundo a região, Jr. Tubarão exercita seus dons culinários servindo refeições à base de peixe e crustáceos, sob pranchas de surf dentro da água, à margem de belas dunas. Algo deveras agradável e inusitado
O incrível de tudo é que esse paraíso potiguar é mais visitado por estrangeiros do que norte-rio-grandenses. Muitos desses visitantes desembarcam no aeroporto de São Gonçalo do Amarante e seguem direto para Galinhos, a fim de desfrutar de um tour inesquecível num bendito espaço intocado da natureza.
Que dádiva seria se a desmesurada ganância exploratória do homem não atingisse Galinhos!
José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil
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