GASOLINA –
Todos os anos é isso: prometo como uma das metas do ano que abastecerei o carro quando chegar a meio tanque. Todos os anos é isso: minto para mim mesma. Vivo com o carro no vermelho, abastecendo nas últimas, depois dos apitinhos de que já não andará muitos quilômetros, depois de olhar a cara feia de meu esposo dizendo que ficarei no prego qualquer hora dessas… Preciso realmente mudar.
Enquanto abastecia, via um senhor calibrando os pneus do seu carro. Nunca fiz isso. Aí, ele abre a mala e calibra o estepe. Onde fica o estepe do meu carro? De verdade, se me mandarem tirá-lo eu não sei fazer. O senhor, aparentemente superorganizado e metódico cuidava do seu carro enquanto eu apenas fazia ao meu o que é infinitamente básico: dar combustível.
Olhava para ele – o carro – enquanto travava uma conversa telepática:
– Pudinzinho (esse é o nome dele), prometo cuidar melhor de você. Vou te dar banho, bombar seus pneuzinhos e deixar sua barriguinha cheia.
Não sei se foi imaginação ou se aconteceu, mas senti claramente Pudinzinho rindo de mim. Acho que ele percebeu que faço promessas que não posso cumprir, como cuidar do seu tanque, não reclamar do meu cabelo ou parar de comprar post-its.
Enquanto forem estas as promessas não cumpridas, está tudo bem. Mas, peço que se me encontrarem algum dia na rua, ao lado do carro parado, porque fiquei no prego sem gasolina, por favor, me ajudem. Não é maldade minha. É apenas uma preguiça incontrolável de parar no posto!
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora