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Todo governo tem em si mesmo, quando não na própria alma, o vírus da convicção. É difícil vê-lo a refletir sobre seus próprios atos, como se a sociedade estivesse sob a tutela de quem governa ou sob a égide dos seus donos, se os tem. Seria fácil, se fosse apenas isto. Não é. Governar é gerir o sentimento popular mais do que o organograma e o orçamento. É ir além de receita e despesa, como se ao pragmatismo bastasse justificar os atos públicos, essa ideal de obter a consagração coletiva.

O Rio Grande do Norte tem dois exemplos eloquentes da complexidade que é governar. Um mais antigo, no segundo Governo Garibaldi Filho, e outro no Governo Rosalba Ciarlini, este que vai chegando ao fim. Garibaldi governou sem atropelos no segundo período, e mesmo quando foi para vender a Cosern, ícone com a marca de Aluizio Alves quando da conquista da energia de Paulo Afonso, fez tudo em nome da modernidade, privatizando o maior patrimônio público do Estado.

Só quatro anos depois, quando se imaginou um governador em férias e lançou-se à conquista do governo para um terceiro mandato – seria um recorde – viu a Cosern transformar-se num monstro de sete cabeças a devorar sua imagem. De repente, o que lhe dera um caixa polpudo, qualquer coisa em torno de setecentos milhões de dólares, virou seu maior problema durante a campanha política a ponto de desnortear sua estratégia de campanha e jogá-lo na única derrota de sua história pública.

Três governos depois, passados uma dúzia de anos, o Governo Rosalba Ciarlini protagoniza um fato singular: sem ter oposição no Poder Legislativo, sem responder por denúncias de corrupção e tendo aprovado todas as operações financeiras que precisou, enfrenta um recorde de desaprovação popular. Aliás, pra mostrar a relevância do seu desgaste, nunca mereceu a menor aprovação popular e nos últimos dois anos passou a colher a condenação brutal da ordem de 80% da população ativa.

Eleita em Natal duas vezes, para o Senado e o Governo, fruto de aliança política que uniu as forças políticas mais expressivas detentoras dos principais veículos de comunicação, como explicar o absoluto fracasso se teve uma secretaria de comunicação atenta, um marketing forte e atuante e não enfrentou uma só denúncia de corrupção? Certamente não faltou nada do que o planejamento tanto valoriza. Mas, com toda certeza, deve ter faltado uma estratégia de comunicação eficiente.

Nas últimas décadas, o jornalismo foi subalternizado pelos fortes interesses empresariais do marketing que passou a criar, aprovar e veicular a comunicação dos governos como se o marketing tivesse a mesma função da retórica. Não tem. O jornalismo é a prática da verdade e o marketing a técnica de persuasão que repete o favorável ao governo, muitas vezes a partir de artifícios e quase sempre subestimando uma sociedade politizada que não abre mão da razão crítica como reflexão.

Vicente Serejo – Jornalista e Escritor

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