O governo do Paquistão cortou a internet no país inteiro nesta quinta-feira (8), quando milhões de paquistaneses foram às urnas para eleger um novo primeiro-ministro.
As eleições, que definirão o novo líder do grande aliado dos Estados Unidos no sudeste asiático, foram marcadas por denúncias de manipulação e pela violência – 35 pessoas morreram desde terça-feira (6) em episódios relacionados com o pleito.
Pouco depois da abertura dos locais de votação, que já fecharam, o Ministério do Interior anunciou que os serviços de internet móvel foram suspensos ‘temporariamente” em todo país por motivos de segurança.
O diretor da Netblocks, organização que monitora a internet, Alp Toker, afirmou à agência de notícias AFP que “o atual bloqueio da internet está entre os mais rigorosos e extensos que já observamos em qualquer país“.
As pesquisas apontam a vitória do ex-premiê Nawaz Sharif, de 74 anos, um dos grandes personagens políticos do país. Associado ao Exército e líder do partido Liga Muçulmana do Paquistão , Sharif retornou do exílio em outubro. Se vencer, governará o país pela quarta vez.
Seu grande rival seria o também ex-primeiro-ministro e popular ex-jogador de críquete Imran Khan, de 71 anos. No entanto, Khan foi condenado a três longas penas de prisão e, por isso, impedido de disputar as eleições – o que fez aumentar a suspeita de parcialidade por parte da Justiça.
O partido de Khan, Pakistan Tehreek-e-Insaf (PTI), foi proibido de fazer campanha, e integrantes da sigla foram detidos ou forçados a deixar o país.
O pleito também acontece sob episódios de violência e mortes. Na véspera das eleições, 26 pessoas morreram em duas explosões perto de escritórios de candidatos rivais.
Mais de 650.000 militares, paramilitares e policiais foram mobilizados para garantir a segurança das eleições. No entanto, apesar do dispositivo, cinco agentes de segurança morreram em um ataque em Kulachi, na província de Khyber Pakhtunkhwa, noroeste do país.
Algumas horas antes, dois agentes morreram na explosão de uma bomba perto de uma assembleia de centro de votação na província do Baluchistão (sudoeste).
A região conturbada foi cenário na quarta-feira de dois atentados nas imediações de comitês de campanha de candidatos, ataques que deixaram 28 mortos e foram reivindicados pelo grupo Estado Islâmico.
Os centros de votação fecharam as portas às 17H00 (9H00 de Brasília) para os quase 128 milhões de eleitores registrados.
“Meu único medo é saber se minha cédula será contada de fato para o partido em que votei”, declarou à AFP Syed Tasawar, operário do setor de construção de 39 anos, ao sair de um centro de votação em Islamabad.
A campanha foi relativamente discreta, uma evidência do desencanto dos paquistaneses com a política. Quase 70% da população não acredita na transparência das eleições, segundo uma pesquisa do instituto Gallup.
O país foi governado durante décadas pelo Exército, mas em 2013 teve pela primeira vez um governo civil.
Imran Khan, que recebeu o apoio do Exército quando foi eleito em 2018, desafiou a instituição diretamente, ao acusar os militares de terem orquestrado sua destituição do cargo de primeiro-ministro em abril de 2022.
A queda em desgraça de Khan favoreceu Nawaz Sharif. Apesar do favoritismo da PML-N, o resultado pode variar muito em função da taxa de comparecimento, em particular dos mais jovens.
A maioria absoluta parece um resultado muito difícil de alcançar para a PML-N, que provavelmente terá de formar uma coalizão, talvez com o Partido Popular do Paquistão (PPP), legenda herdada por Bilawal Bhutto Zardari, filho da ex-primeira-ministra assassinada Benazir Bhutto e do ex-presidente Asif Ali Zardari.
O Paquistão, que possui a arma atômica, tem uma posição estratégica entre Afeganistão, China, Índia e Irã, enfrenta muitos desafios.
A segurança no país piorou desde que o movimento Talibã retornou ao poder no Afeganistão em agosto de 2021. A economia paquistanesa tem uma dívida gigantesca e o país registra inflação de quase 30%.
Fonte: G1
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