AS GRAVATAS DE AFONSO (PROMESSA É PROMESSA) –
A elegância do uso da gravata remonta ao final do século XVII, a partir do momento que os franceses observaram os soldados croatas com uma espécie de cachecol enrolado no pescoço, talvez para amenizar o frio em determinada época, na parisiense cidade da moda.
Inspirados, os franceses criaram a gravata (1668), adereço que conquistou popularidade entre os homens, que a adotaram como elemento de destaque no seu vestuário.
Os primeiros a utilizarem, o faziam com um nó no centro e duas pontas longas soltas no peito e, logo a nomearam como ‘cravate’, tradução de croata em francês.
A gravata ganhou o mundo e em diversas formas e cores, passou a fazer parte do estilo de grandes nomes da história, entre eles o rei Luís XIV.
Em 1926, Jesse Langsdorf, de Nova Iorque, inovou o corte da gravata, em tecido diagonal, e a peça passou a ser parte fundamental dos acessórios de empresários e homens da alta sociedade.
Sim, e agora? Agora é que começa a história “As gravatas de Afonso”.
Primeiro vamos conhecer o personagem – Afonso de Ligório Soares, à época, Gerente de Atendimento (assim como eu) na Agência Potiguar, na CAIXA.
Todos os dias, garbosamente desfilava, no exercício de sua atividade, belíssimas gravatas, quase sem repeti-las na faina diária. Se não dos outro, a mim chamava atenção pela elegância do nó (um dilema para quem não tem prática), pelas estampas, pela variedade de cores e pelo “talhe” sério que as mesmas impunham.
A cada “bom dia” emendava: “bonita gravata Afonsinho”, parafraseando a famosa “bonita camisa Fernandinho”. E como resposta, “- Um dia todas serão suas”.
Sim, e aí?
Como em toda história, passou-se o tempo e, por “ossos do ofício” fui transferido para outra agência, instalada (então) nas dependências do Hiper Bom Preço, ali na Av. Prudente de Morais.
‘Homi’, deixe de suspense!
E Afonso?
Por um tempo maior que meses, perdi o contato profissional, e raramente encontrava-o num evento qualquer. Depois soube que ele havia se aposentado.
Só que a história toma agora outro rumo: a promessa cumprida.
Como?!
Estou na prerrogativa da atividade bancária, quando chega um “indivíduo” me procurando e mesmo depois de indagado se outro poderia atendê-lo, responde taxativo: “Não”.
O tom da resposta alertou o vigilante e as atenções foram voltadas para a insistência do tal “cliente”, que me buscava com tamanha determinação.
No “meu” birô, ao canto, absorto no destrinchar das metas, um colega vem comunicar o apeteço do homem, que além de querer me ver, portava um pacote (meio desarrumado) e que alegava que era para mim.
– O senhor é seu Josuá? (E se colocou em frente ao birô).
Abriu o pacote e começou a espalhar gravatas e mais gravatas sobre a mesa.
– Foi Dr. Afonso que mandou fazer assim!
Aos olhares atônitos do segurança e alguns colegas, dei uma bela gargalhada.
As gravatas de Afonso! (me lembrei de algumas delas).
A promessa: “Um dia todas serão suas” estava cumprida.
Se você, ainda hoje, me encontrar com uma no pescoço, não hesite em perguntar: é a gravata de Afonso?
E se você tiver paciência, contarei essa história de novo.
Promessa é promessa!
Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])
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