Fábio Macêdo
Há muito tempo não se via no Brasil uma movimentação genuína e espontânea que brotou com tanto entusiasmo. Depois das ¨Diretas Já¨, ¨Fora Collor¨ nada igual havia surgido. De norte a sul do país a classe média e intelectual se uniu, inicialmente contra o aumento de centavos da passagem de ônibus nas capitais brasileiras. Foi apenas o estopim para um grande levante. Desorganizado a princípio, opondo-se a tudo, apontava à classe política um sinal de desaprovação. A ocupação das ruas era algo automático.
No meio deste levante popular, havia uma agenda nacional que priorizava a copa do mundo de 2014, promovida pela FIFA. Sem dúvidas um evento grandioso. A máquina governamental se empenhava com vigor para este acontecimento e toda a sua estrutura foi colocada à disposição dos empresários e dirigentes. O BNDES abriu as suas portas às empreiteiras, algo que se tornou comum nos últimos anos, com juros promocionais. Leis especiais foram criadas isentando a FIFA de impostos, algo que está longe de acontecer para os brasileiros comuns, gerando uma lucratividade nunca vista na História das copas. Do ¨legado da copa¨ restaram dívidas ao contribuinte, estádios sem viabilidade alguma para sobreviver e um punhado de cartolas presos e afastados.
Havia um grande receio se a copa do mundo aconteceria numa atmosfera segura, pois a população que foi bombardeada durante meses e anos sobre o ¨padrão FIFA¨, começava a cobrar este mesmo padrão para os hospitais, para as escolas e para a segurança pública. Na abertura da copa do mundo, a digníssima presidente da república foi calorosamente recebida com uma sonora vaia e algo mais. Desconfiava-se que o desdobramento das ruas poderia ganhar um novo impulso. Mas nem só de pão vive o homem. Vive também de circo. E o circo permaneceu armado o grito das ruas emudeceu por longos meses.
Após a copa do mundo, vem uma campanha para presidente, governador, deputados e senadores. A máquina da reeleição começava a atuar impiedosamente pelo Brasil, a favor dos candidatos do sistema. Passagens marcantes aconteceram, como a morte de Eduardo Campos. Jovem, carismático com perfil socialista moderado, prometia crescer. Tinha como vice-presidente Marina Silva, que carregava 22 milhões de votos na última eleição. Uma tragédia que abateu a todos os brasileiros. Inegavelmente, desconhecido por grande parte da população, certamente preparava um projeto visando a eleição de 2018. Marina Silva assumiu o seu lugar, ganhou um fôlego inicial, mas mostrou uma grande fragilidade. Não passou firmeza para presidir o Brasil. O ¨Coitadismo¨ personalizado em suas enfermidades passadas, acabou por abatê-la, após uma meteórica ascensão. Aproveitando esta fragilidade, cresce o Senador Aécio Neves, o qual enfrentaria no segundo turno a presidente Dilma Roussef e toda a sua máquina. Protagonizaram a campanha de mais baixo nível que se tem conhecimento. Robótica e focada tão e somente nos ataques, perderam uma grande oportunidade de oferecer respostas ao Brasil.
As ruas por ora adormecidas, incentivadas por uma indignação onde a mentira saiu vencedora, turbinada pela ¨Lava-jato¨, azeitada pelas pedaladas fiscais, retornam com todo vigor. Claro que a pureza virginal, deu passagem ao pragmatismo impiedoso. Grupos políticos aproximaram-se dos seus ¨líderes¨, ávidos para acrescentar ao arsenal a famosa militância, tão rara, exceto para o PT. Com o desgaste dos políticos paquidérmicos, aparecerão novas lideranças e certamente novas desilusões. O certo é que o avanço do socialismo já foi contido, mas a grande pergunta é: surgirá algo verdadeiramente NOVO para o Brasil?
Fábio Macêdo – Médico, professor da UFRN
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