Na última terça-feira (29), a prisão de Rogério de Andrade, sobrinho de Castor e maior bicheiro do Rio atualmente, representou mais um capítulo importante dessa história trágica. Rogério é apontado como mandante da morte de Fernando Iggnácio, genro de Castor.
Segundo a Polícia Federal, a guerra que teve início com a morte de Castor em 1997 já teve mais de 50 mortos. Entenda quem é quem nessa disputa e conheça detalhes da briga pela herança de Castor de Andrade.
Morte de Castor dividiu familiares
Um dos maiores bicheiros de todos os tempos no Rio, Castor teve um infarto fulminante e morreu durante um encontro com amigos em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, em 1997.
Na época, o mundo da contravenção fazia perguntas para saber quem ficaria com o controle do jogo do bicho e das máquinas caça-níqueis do grupo de Castor. Entre as respostas estavam três nomes:
- Paulinho Andrade, filho e herdeiro de Castor;
- Rogério Andrade, o sobrinho, apontado como braço-direito do bicheiro mais velho;
- Fernando Iggnácio, genro de castor, casado com Carmem Lúcia de Andrade, filha do chefão do bicho, que já gerenciava as máquinas de caça-níqueis na época.
As peças que estavam no tabuleiro logo começaram a fazer seus primeiros movimentos. Contudo, como em toda guerra, cada um queria eliminar seus rivais, sem que eles tivessem chance para novas investidas no futuro.
A primeira morte
O primeiro herdeiro a morrer foi Paulinho, filho de Castor. Em outubro de 1998, Paulinho e seu motorista sofreram um atentado na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Os dois foram assassinados.
O carro onde Paulinho estava foi parar em cima do canteiro central da Avenida das Américas.
O autor dos disparos foi preso tempos depois e delatou Rogério Andrade como o mandante do crime. Ele e seu irmão Renato foram condenados a 19 anos de prisão.
Porém, em 2013, o julgamento foi anulado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por não haver comprovação da participação de Rogério na morte do primo.
Duelo pelo poder teve briga na prisão
Depois que Paulinho saiu de cena, Rogério e Fernando Iggnácio passaram a brigar pelo controle dos pontos do bicho e das máquinas, cassinos e bingos espalhados, principalmente, pela Zona Oeste do Rio.
Em fevereiro de 2001, Rogério foi vítima de uma tentativa de assassinato, quando sofreu uma emboscada em um apart-hotel na Barra da Tijuca. Na ocasião, a arma do atirador falhou e o bicheiro ficou vivo.
Rogério e Fernando chegaram a ser presos juntos, alvos da Operação Gladiador da Polícia Federal, que revelou o envolvimento da máfia dos caça-níqueis e do jogo do bicho com agentes públicos. Os arquirrivais ficaram lado a lado em vários momentos e chegaram a brigar dentro do presídio Bangu 8.
Entre 1999 e 2006, segundo a PF, a disputa entre os dois deixou um rastro com mais de 50 mortes. Com a prisão da dupla, a guerra cessou, mas não por muito tempo. Em 2009, eles foram soltos pela Justiça.
Morte do filho de Rogério acirrou disputa
Com os dois “na pista”, a guerra alcançou seus piores dias. Rogério e Fernando mantinham equipes de segurança reforçada, mas desconfiavam de todos ao redor.
Em abril de 2010, na Barra da Tijuca, o carro de Rogério explodiu em plena Avenida das Américas. O bicheiro, que costumava dirigir seu carro, dessa vez estava no banco do carona.
O motorista era seu filho, Diogo, de 17 anos. O jovem morreu na mesma hora. O carro do segurança deles também pegou fogo. Rogério ficou ferido, passou por uma cirurgia no rosto, mas logo se recuperou.
Dias depois, em uma entrevista para a TV Globo dentro de uma igreja na Zona Sul do Rio, depois da missa em memória do filho, Rogério disse que não buscaria vingança.
“Minha querida, eu nunca fui um homem de vingança. Eu sofri o primeiro atentado, houve alguma vingança? Não houve. Eu to esperando o Estado tomar as medidas cabíveis”, respondeu Rogério.
Pouco depois, o segurança de Rogério foi assassinado a tiros na orla da Barra da Tijuca. Segundo a investigação, o bicheiro desconfiava da participação dele no atentado que matou seu filho.
Na época, Rogério chegou a ter um mandado de prisão expedido, mas não foi preso. Ele ficou por anos foragido da Justiça.
Novos atentados e rival morto
O núcleo familiar de Rogério foi novamente atacado em setembro de 2017. Ele a esposa, Fabíola de Andrade, estavam de carro na porta de casa quando foram alvo de tiros.
Fabíola foi atingida no braço e precisou passar por uma cirurgia. Mais uma vez, o crime não teve uma solução.
Três anos depois, em novembro de 2020, Fernando Iggnácio foi morto com tiros de fuzil na cabeça. O crime aconteceu no Recreio dos Bandeirantes.
Ele tinha acabado de chegar de Angra dos Reis de helicóptero, quando foi baleado. A execução aconteceu antes de o bicheiro entrar no carro blindado. A Polícia Civil descobriu os cinco participantes da emboscada, entre eles o chefe da segurança de Rogério.
Menos de um ano após a morte de Iggnácio, em março de 2021, Rogério Andrade foi denunciado pelo Ministério Público do Rio pelo crime.
Contudo, em fevereiro de 2022, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal trancou a ação, porque entendeu que a denúncia não descrevia como Rogério havia participado do assassinato.
Preso em 2022
Três meses depois, o contraventor foi preso na segunda fase da Operação Calígula pra combater jogos de azar. O filho dele, Gustavo Andrade, também foi preso.
No fim de 2022, Rogério foi solto e obrigado a usar tornozeleira eletrônica. Porém, em abril deste ano, o ministro Kassio Nunes Marques, do STF, autorizou a retirada da tornozeleira.
A decisão do ministro levou Rogério de volta ao mundo do samba.
No dia 13 de outubro, quando foi escolhido o samba-enredo para 2025, Rogerio estava lá. Três dias antes, ele tinha sido alvo de busca e apreensão em uma operação que investigava outro assassinato ligado à contravenção.
Nesse dia, o presidente da mocidade, Flavio da Silva Santos, foi preso em flagrante, porque encontraram uma arma com ele.
Na última terça-feira (29), Andrade voltou a ser preso. O patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel e o maior bicheiro do Rio foi citado em nova denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), que levou à Operação Último Ato.
Os investigadores afirmam que o bicheiro mandou matar o rival Fernando Iggnácio. Rogério Andrade foi preso em casa, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca.
Fonte: G1