HERIVELTO MARTINS REMEMORADO –
Aqueles que curtiram e que ainda curtem a boa música romântica, com uma bem letrada história de amor, dramas e conflitos a dois, jamais irão esquecer o nome de Herivelto Martins, compositor, ator e cantor, estrela de primeira grandeza da música brasileira.
Herivelto de Oliveira Martins (Herivelto Martins), nasceu em Rodeio/RJ, em 30 de janeiro de 1912. Filho de Félix Buenos Martins, agente ferroviário, excelente músico e arranjador teatral e Cartola de Oliveira Martins, costureira e doceira; da união tiveram quatro filhos: Herivelto, Hedelacy, Hedenir e Holdira.
Herdara do pai a vocação artística, e já com três anos de idade fazia parte como ator nas peças que seu pai organizava e apresentava.
Em 1916, a família mudou-se para Barra de Piraí, onde seu Félix criou a Sociedade Dramática Dançante Carnavalesca Florescente de Barra de Piraí, onde organizava bailes e criava e dirigia espetáculos teatrais, já com a participação do filho menor Herivelto.
Aos 9 anos de idade, o menino músico compôs a paródia “Quero uma mulher bem nua” e o samba “Nunca Mais”, que não chegou a ser gravado. Um ano depois, começou a estudar música na Sociedade Musical dos Artistas, em Barra do Piraí, quando revelou sua versatilidade no trato com os instrumentos musicais: bombardino (aerofone da família dos metais), pistão e caixa; mas a sua preferência era mesmo pelo cavaquinho e o violão.
A família humilde sempre estava enfrentando problemas financeiros e, em consequência, as discussões domésticas eram frequentes. A ajuda complementar vinha da venda de doces que a sua mãe fazia. Terminaram falindo e perdendo a casa, que foi tomada para pagamento de dívidas da Sociedade fundada por seu Félix.
Com treze anos, conheceu Zeca Lima e Colosso, artistas circenses, com os quais formou um trio, que passou a se apresentar com sucesso pelo interior do estado do Rio de Janeiro. Um fato inusitado aconteceu, o qual Herivelto não esperava: os seus parceiros eram procurados pela polícia e, num momento de auge das apresentações, os dois foram presos. Trio desfeito e retorno a vida comum, em busca de novas investidas artísticas.
Com a promoção funcional de seu Félix, a família foi morar no bairro do Brás/São Paulo, mais precisamente na rua Salão Lobato, onde Herivelto foi trabalhar em um botequim, passando a ser conhecido por Carioca.
As discussões em casa com o pai continuavam com mais frequência e em grau mais áspero. Foi quando, com a idade dezoito anos, deixou o convívio da família e viajou para a cidade do Rio de Janeiro para tentar a carreira artística. Na cidade maravilhosa, se juntou ao seu irmão Hedelacy, que exercia a profissão de barbeiro. Foi bem acolhido, permanecendo como seu auxiliar e, nas horas vagas, se “virava” em múltiplas atividades: palhaço de circo, vendedor, caixa de um botequim, ajudante de contabilidade e, aos sábados, ajudando o irmão como aprendiz de barbeiro.
Criou gosto para o novo ofício, e logo recebeu um convite para trabalhar em uma barbearia no Morro do São Carlos, onde conheceu o compositor José Luiz da Costa (o Príncipe Pretinho), e o seu futuro parceiro J.B. de Carvalho, do Conjunto Tupy, amigo do dono da gravadora RCA Victor.
Compôs e gravou “Da cor do meu violão”, que foi apresentada a J.B de Carvalho, que a gravou no ano de 1932 pela RCA Victor. Nascia aí o compositor Herivelto Martins.
Em 1932, Herivelto, juntamente com Francisco Sena, que conhecera no Conjunto Tupy, começa a ensaiar algumas canções, entre elas a música “Preto e Branco”. A dupla recebeu convite de Vicente Mazulo para fazer uma apresentação no Cine/Teatro Odeon, quando foi muito elogiada e, de imediato, contratada, passando a ser chamada “Dupla Preto e Branco”, nomenada por Vicente Mazulo.
O primeiro disco da dupla foi gravado em 1934 pela Odeon, composto pelos sambas: “Quatro Horas” e “Preto e Branco”; vindo depois a gravar “A vida é Boa”, “Vamos soltar balão” e “Como é belo”.
Em 1935, morre Francisco Sena. Herivelto passa a atuar sozinho, voltando a trabalhar como palhaço e caipira com o nome de Zé Catinga. Um ano depois, é apresentado ao cantor e compositor Nilo Chagas, com quem forma novamente a Dupla Preto e Branco, gravando quatro discos.
Em 1937, a dupla gravou com a cantora Dalva de Oliveira (1917-1972) “Batuque de Itaquari” e a marcha “Cecí e Peri”, de autoria de Príncipe Pretinho, com sucesso. No seu programa na Rádio Mayrink Veiga, o apresentador César Ladeira(1910-1969) mostrou pela primeira vez o Trio: Herivelto, Nilo Chagas e Dalva de Oliveira, o qual batizou de Trio de Ouro.
A vida de Herivelto foi recheada de casamentos. Em 1930, conheceu Maria Aparecida Pereira de Mello, sua primeira esposa, com quem teve 2 filhos: Hélcio e Hélio. A união durou cinco anos.
Em 1937, oficializou o seu segundo casamento com a sua companheira de Trio, Dalva de Oliveira, em um ritual de umbanda. Tiveram 2 filhos, Pery Ribeiro( cantor) e Ubiratan de Oliveira Martins ( produtor de TV). Dez anos depois (1947) veio uma nova separação, depois de muitas brigas, traições e ciúmes. Momento que teve início a uma das maiores batalhas polêmicas musicais, com participação por um lado de Herivelto e David Nasser (1917-1980), seu grande parceiro; jornalista brilhante, compositor polêmico e de carácter duvidoso; do outro lado, famosos compositores amigos de Dalva, entre eles Ataulfo Alves.
Três anos depois (1950), o Trio recebe uma nova formação, com a participação da cantora Noemi Cavalcanti.
Em 1952, Herivelto casa pela terceira vez com a aeromoça Lurdes Nura Torelli, prima do Barão de Itararé; a união perdurou até o ano de 1990, quando do falecimento de Lurdes. No mesmo de ano (1952), o Trio recebeu uma nova formação com a entrada da cantora Lourdinha Bittencourt ( esposa do cantor Nelson Gonçalves), permanecendo juntos e unidos por 27 anos (1952-1979). O conjunto musical recebeu ainda sua quarta e última formação com a chegada de Raul Sampaio e Shirley Dom, na década de de 1980.
No ano de 1992, aos 80 anos, no dia 16 de setembro, na cidade do Rio de Janeiro, faleceu vítima de uma embolia pulmonar, deixando uma vasta e rica discografia, quase setecentos canções, com destaques para: “A Lapa”, “Caminhemos”, “Atiraste uma Pedra”, “Ave Maria no Morro”, “A Bahia te espera”, o clássico e imortal tango” Carlos Gardel”, “Camisola do dia”, “Nega Manhosa”, “Pensando em ti”, “Praça Onze” e muitos e muitos outros belos e inesquecíveis sucessos, que ainda são bem audíveis pelos amantes da boa música brasileira.
Berilo de Castro – Médico, escritor, membro do IHGRN – berilodecastro@hotmail.com.br
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